quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Quase um poema de amor - Miguel Torga


Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!
A nossa natureza
Lusitana
Tem essa humana
Graça
Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça
Bebedeira.

Mas ou seja que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.

1 comentário:

  1. "Mas ou seja que vou envelhecendo
    E ninguém me deseje apaixonado,
    Ou que a antiga paixão
    Me mantenha calado
    O coração
    Num íntimo pudor,
    Há muito tempo já que não escrevo um poema
    De amor."

    PERFEITO! PERFEITO!

    Do que pode viver o poema, senão da paixão e do amor que move o poeta?
    Ah! Isso do poeta dizer o amor...!
    Imenso aquele que assim o faz...
    Imenso também o é, quando guarda o amor "num íntimo pudor"!

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