terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Peguei numa folha de papel

Peguei numa folha de papel
23/01/2017
23:55


Peguei numa folha de papel
E num simples lápis de carvão
E foram teus lábios de mel
Que me deram a inspiração


Tu não páras de me encantar
Com teus cabelos ao vento
Teus lindos olhos a brilhar
São doces a tod'o momento


Meus versos são a sublimação
De com alma te poder cantar
Sempre em perfeita sintonia
Pode ser simples esta canção
Que foi feita para te louvar
Nesta modesta melodia.


José C. Ramalho
Direitos Autor Reservados / SPA

sábado, 23 de maio de 2015

Guardar um segredo


Fundação de Portugal 1179 - 836 anos

Afonso I de Portugal, mais conhecido por D. Afonso Henriques (nasceu em 25 de Julho de 1111 em Guimarães. — Coimbra6 de Dezembro de 1185) foi o fundador do Reino de Portugal e o seu primeiro rei, com o cognome O ConquistadorO Fundador ouO Grande pela fundação do reino e pelas muitas conquistas. Era filho de D. Henrique de Borgonha e de D.Teresa de Leão,condes de Portugal, um condado vassalo do reino de Leão.1 Após a morte de seu pai em 1112, Afonso tomou uma posiçãopolítica oposta à da mãe, que se aliara ao nobre galego Fernão Peres de Trava. Pretendendo assegurar o domínio do condadoarmou-se cavaleiro e após vencer a sua mãe na batalha de São Mamede em 1128, assumiu o governo.1 Concentrou então os esforços em obter o reconhecimento como reino. Em 1140, depois da vitória na batalha de Ourique contra um contingente mouro, D. Afonso Henriques proclamou-se rei de Portugal com o apoio das suas tropas. Ao contrário do que dizem sobre o Tratado de Zamora só tornou o Condado Portucalense independente do Reino de Leão. A independência portuguesa foi reconhecida, em 1179, pelo papa Alexandre III, através da bula Manifestis Probatum e ganhou o título de rex (rei).1 Com o apoio de cruzados do norte da Europa conquistou Lisboa em 1147. Com a pacificação interna, prosseguiu as conquistas aos mouros, empurrando as fronteiras para sul, desde Leiria ao Alentejo, mais que duplicando o território que herdara. Os muçulmanos, em sinal de respeito, chamaram-lhe Ibn-Arrik («filho de Henrique», tradução literal do patronímico Henriques) ou El-Bortukali («o Português»).




Há 836 anos...
No dia 23 de maio de 1179 o papa Alexandre III reconheceu Portugal como reino independente.

domingo, 26 de abril de 2015

Quem viu morrer Catarina...


CELINA DA PIEDADE - Ceifeira ( tradicional Alentejo )

Hino de Caxias


Quarenta e um anos já passados
Que em Abril uma revolução
Feita por capitães e soldados
Deram novo rumo á Nação

Enterrou-se uma ditadura
Mas todos estes anos volvidos
Aí temos de novo a tortura
Voltamos a estar oprimidos

Que estranha esta democracia
Engolidos pelos tubarões
Vive este Povo na agonia
A contar os poucos tostões

Roubam tudo descaradamente
Impostos não páram de subir
E nós povo que tudo consente
Que é preciso para se reagir?

Vampiros, corruptos estes vilões
Que no poder estão instalados
Deviam estar nas prisões
Pelos seus crimes julgados

Portas, Coelhos e Cavacos,
Onde está a vossa honradez?
Deixaram este país em cacos
E na miséria o povo português

José C. Ramalho - Direitos de Autor Reservados / SPA
Beja, 26 de Abril de 2015

sábado, 25 de janeiro de 2014

Praxe, polémica e violência, uma história com séculos

Foi proibida pelo rei. Foi debatida nos jornais, de forma apaixonada, em diferentes momentos. Caiu com a crise académica. Emergiu com a massificação do ensino. Que praxe é esta?

Há algumas ideias feitas sobre a praxe dos estudantes. Por exemplo: que os abusos são coisas da História recente; que ela é igual em todas as universidades; que o termo se refere apenas aos “castigos” aplicados aos alunos do 1.º ano. Não é bem assim.
Os castigos sobre os mais novos, como os “canelões” (os mais velhos davam pontapés nas canelas dos recém-chegados a Coimbra), eram praticados já no século XVII. Não se fala, então, de “praxe”, antes de “investida”. E esta podia incluir “insultos”, “troças” ou castigos, como obrigar o jovem aluno a prestar serviços aos mais velhos (limpando-lhes os sapatos, por exemplo).

Por vezes, as “investidas” degeneravam. “Não havia defensa daquelas bárbaras e indecentes investidas, feitas com violência e desacatos, armados os agressores como para assaltar um castelo: e destes excessos resultaram mortes, incêndios e sacrilégios”, escreveu o médico e filósofo Ribeiro Sanches (1699-1783).

Em 1727, D. João V determina o seguinte: “Mando que todo e qualquer estudante que por obra ou palavra ofender a outro com o pretexto de novato, ainda que seja levemente, lhe sejam riscados os cursos.” Mas a praxe resiste. É de 1765 a Macarrónea Latino-Portuguesa, “conhecida pelo título da primeira composição, publicada em 1746 – o Palito Métrico”, onde se “descreve e prescreve”, nas palavras da socióloga Maria Eduarda Cruzeiro, a relação com os “caloiros”. No século XIX, os novatos são “tosquiados”, obrigados a cantar e a dançar. Em 1873, um estudante, depois de ver o cabelo cortado à força, mata um dos agressores.

António Manuel Nunes explica, em 2004, nos Cadernos do Noroeste, que alguns rituais envolviam também alunos mais velhos, caso do hábito de “rasgar as vestes e ser violentamente sovado com palmadas no momento em que se acabava o curso”. Por meados do século XIX, o termo “praxe” substitui “investidas”, “caçoadas” e “troças”. “Desde essa data, a Praxe Académica reúne numa mesma unidade semântica os comportamentos característicos, e até dispersos, do universo académico”, diz Aníbal Frias, num artigo publicado na Revista Crítica de Ciências Sociais, em 2003. E “emerge devido a um aumento da concorrência entre a velha Universidade de Coimbra e outros estabelecimentos de ensino superior, técnico-científicos, então criados em Lisboa e no Porto. Uma competição que se acentua (...) com a criação das universidades de Lisboa e do Porto em 1911, e, sobretudo, depois do 25 de Abril de 1974, com a multiplicação das universidades novas e dos institutos politécnicos, em busca de uma legitimidade e de uma ‘alma’.”

Moca, colher e tesoura
No início do século XX, há histórias célebres de tentativas de suavizar as praxes, como a do jovem Aristides de Sousa Mendes, futuro cônsul, e do seu irmão gémeo César, que promoveram as “Festas de recepção aos novatos” na Universidade de Coimbra, onde estudavam Direito em 1905. Com José d’Arruella e outros “rapazes cheios de intenções generosas”, o grupo recebeu os caloiros com poesia, música e teatro, numa tentativa de pôr fim à “velha usança das troças” que, por vezes, se tornavam “sumamente agressivas”, conta Lina Alves Madeira, na revista Rua Larga, da UC. Na altura, a iniciativa foi saudada por Guerra Junqueiro, Gomes Leal e Bernardino Machado. Com a proclamação da República, a praxe quase desaparece. Mas, em 1916, “uma representação assinada por 825 estudantes” reclama-a. E estala o debate, de novo. “Abaixo as praxes ridículas e inoportunas!”, lê-se num artigo de 14 de Dezembro desse ano, publicado no bissemanário A Resistência.

A primeira tentativa de codificação da praxe de Coimbra no século XX é também de 1916, segundo Maria Eduarda Cruzeiro. Chama-se Leis Extravagantes da Academia de Coimbra ou Código das Muitas Partidas e tem na capa “a triologia simbólica da perseguição aos caloiros” – a moca, a colher e a tesoura, símbolos que resistem até hoje – “e ainda uma figura de veterano aplicando com uma colher a sanção de unhas a um caloiro”. A colher, por exemplo, é, segundo Frias, um símbolo dos castigos escolares – remete para a palmatória dos professores, que “aponta as letras do alfabeto no quadro, que apruma os corpos e os espíritos, que marca o ritmo dos exercícios”.

Em 1957, o Código da Praxe Académica de Coimbra, então aprovado, define praxe como “o conjunto de usos e costumes tradicionalmente existentes entre os estudantes de Coimbra e os que forem decretados pelo Conselho de Veteranos”, definição que permaneceu até hoje. O debate pró e contra a praxe volta às páginas dos jornais. O Diário de Lisboa publica durante dias a fio cartas e artigos em tom inflamado. “Se há caloiros que tudo suportam, há os que não sofrem sem raiva no coração as humilhações impostas por indivíduos tantas vezes intelectualmente coxos”, lê-se num deles. Responde outro: “O que se pretende com as inofensivas brincadeiras a que os caloiros são submetidos é ver como estes reagem a elas e, se for caso disso, tentar demonstrar-lhes que a excessiva arrogância e o amor-próprio em demasia ser-lhes-ão prejudiciais na sua vida futura.”

No jornal República, a associação académica faz saber que a praxe é um “assunto da exclusiva competência dos estudantes de Coimbra [...] e só a eles cabe (se o entenderem!) actualizá-la”.
Esta visão da praxe como algo que escapa ao controlo do exterior é recorrente. Miguel Cardina, num número da Revista Crítica de Ciências Sociais, de 2008, diz que a praxe é “uma reminiscência” do tempo em que existia em Coimbra um “foro académico” – ou seja, uma jurisdição universitária (com tribunal, prisão e polícia próprios).
Ainda na década de 1960, com a crise académica, a praxe é abolida. E uma reportagem de 1973, no República, descreve uma Coimbra sem capa nem batina, onde os estudantes haviam perdido o seu “estatuto especial”. Mas havia saudosos da praxe.

“Entre 1978 e 1980, alguns elementos da Praxe Académica foram reactivados” na cidade, conta Frias. Esta “restauração” desenvolveu-se em várias etapas: em 1978, assistiu-se “à ressurreição do fado”, o qual “havia sido parcialmente destronado” pelo canto de intervenção; em 1979, com o apoio da direcção social-democrata da Associação Académica de Coimbra, organiza-se uma “Queima das Fitas disfarçada”; em 1980, regressam a Queima das Fitas, a capa e a batina... e as praxes.

Esfregada com esterco
A década de 1980 e 1990 marca a explosão do ensino superior em todo o país. Nascem novas instituições, públicas e privadas, para dar resposta à crescente procura de formação por parte de jovens de diversas origens. Nos anos 1990, os rituais vulgarizam-se. Frias fala de “praxes híbridas”, “onde os empréstimos do modelo coimbrão se associam a traços locais”. Um inquérito aos estudantes de Coimbra conduzido pelo sociólogo Elísio Estanque entre 1999 e 2000 revela que só 3,3% pensam que a praxe deve ser abolida por a acharem violenta.

Depois de 2000, vários ministros da Educação mostram-se preocupados com alguns relatos. O caso de Ana Santos é dos mais mediáticos. “Obrigaram-me a colocar na posição de ‘Elefante Pensador’ (joelhos, cabeça no chão e mãos debaixo dos joelhos com as palmas viradas para cima). Fui insultada por tempo que não consigo quantificar (...). Fui esfregada com esterco – camada sobre camada, cara, pescoço, peito, costas, barriga, cabelo”, tendo sido obrigada a ficar “em pé a secar ao sol” – era este o teor da carta da aluna da Escola Superior Agrária de Santarém ao então ministro Pedro Lynce. Estávamos em 2002.

A aluna contou que a dois caloiros, como ela, foi ordenado que lhe mergulhassem a cabeça num bacio com excrementos. Tudo começou quando atendeu um telefonema da mãe. Os caloiros estavam proibidos de falar ao telefone.
Em 2007, o regime jurídico das instituições de ensino superior passou a prever sanções para quem, nas praxes, passasse das marcas. Mas os casos sucederam-se.

“A relativa desvalorização social dos títulos académicos (que deriva da própria massificação da certificação escolar) e a necessidade de legitimação de novas instituições foram um poderoso factor do renascimento das praxes enquanto retórica de tradicionalismo”, lê-se num relatório do Parlamento, em 2008, cuja relatora foi a deputada Ana Drago.

Nesse ano, o caso de Ana Santos chegou ao tribunal. Durante o julgamento, um ex-professor declarou que era “preciso desmistificar as fezes” e o director da escola fez saber que também tinha “recebido bosta no corpo”. Mas seis jovens que praxaram a aluna acabaram condenados por ofensa à integridade física qualificada e um sétimo pelo crime de coacção. Tiveram de pagar multas.

No mesmo ano, o Instituto Piaget de Macedo de Cavaleiros foi condenado a pagar 40 mil euros a uma estudante vítima de actos “degradantes e humilhantes”. E, em 2009, foi dado como provado que o aluno Diogo Macedo tinha morrido, oito anos antes, por causa de uma pancada na nuca, na Universidade Lusíada de Vila Nova de Famalicão, onde estava a participar num ensaio da tuna.

Apesar de já estar no 4.º ano, Diogo nunca passara de “tuninho” (o grau mais baixo na hierarquia) e era frequentemente submetido a praxes. O caso chegou a ser arquivado pelo Ministério Público, em 2004, por falta de provas, mas a mãe do aluno exigiu uma indemnização, na esperança que mais dados surgissem sobre o que se passara. Já em 2013, o Supremo Tribunal de Justiça confirmou a condenação da Lusíada: cerca de 91 mil euros por danos morais.

Auscultados responsáveis de universidades e politécnicos, o relatório de 2008 do Parlamento concluiu que imperava “o entendimento de que as praxes académicas são um universo autónomo e, em certa medida, exterior às próprias instituições”, que “os órgãos de gestão se devem abster de intervir” e que cabe “aos organismos da praxe e aos próprios alunos” prevenir e sancionar as situações de abuso. Mas também houve reitores, como Mário Moutinho, da Universidade Lusófona de Lisboa, a defender uma proibição que viesse de cima: “Julgamos que orientações superiores facilitando a sua proibição em muito ajudariam esta universidade a rejeitar liminarmente a realização de praxes académicas.” Com Sérgio Gomes

Fontes: Aníbal Frias, Praxe académica e culturas universitárias em Coimbra. Lógicas das tradições e dinâmicas identitárias, in Revista Crítica de Ciências Sociais, 2003; António Manuel Nunes, As praxes académicas de Coimbra: uma interpelação histórico-antropológica, in Cadernos do Noroeste, 2004;Miguel Cardina, Memórias incómodas e rasura do tempo: Movimentos estudantis e praxe académica no declínio do Estado Novo, in Revista Crítica de Ciências Sociais, 2008; Elísio Estanque, A tradição e o movimento estudantil na Universidade de Coimbra; Maria Eduarda Cruzeiro, Costumes estudantis de Coimbra no século XIX, in Análise Social, 1979; Alberto Sousa Lamy, A Academia de Coimbra (Rei dos Livros, 1990)

Rio Degebe e Guadiana




Évora... Templo Romano e Moínhos Alto S.Bento

Foto: Templo Romano... Évora

Foto: Alto S.Bento ... Évora (Photoscape)

Rio Tejo próximo de Muge



Crianças usadas como carne para canhão


Castelo S.Vicente Valongo


Pôr do Sol na Serra de Portel


Ponte do Albardão sobre o Rio Degebe


Montijo... antiga Aldeia Galega...


terça-feira, 4 de outubro de 2011

AULA DE SOCIOLOGIA POLÍTICA PARA CRIANÇAS


- Pai, eu preciso fazer um trabalho para a escola! Posso te fazer uma

pergunta?

- Claro, meu filho, Qual é a pergunta? - O que é política, pai? - Bem, meu filho,

política envolve:

1. povo;

2. governo;

3. poder econômico;

4. classe trabalhadora;

5. futuro do país.

- Não entendi. Dá para explicar?

- Bem, vou usar a nossa casa como exemplo:

Sou eu quem traz dinheiro para casa, então eu sou o poder econômico. Sua

mãe administra, gasta o dinheiro, então ela é o governo.

Como nós cuidamos das suas necessidades, você é o povo. Seu irmãozinho é o

futuro do país e a Zefinha, babá dele, é a classe trabalhadora.

Entendeu, filho? - Mais ou menos, pai. Vou pensar.

Naquela noite, acordado pelo choro do irmãozinho, o menino, foi ver o que

havia de errado.

Descobriu que o irmãozinho tinha sujado a fralda e estava todo emporcalhado.

Foi ao quarto dos pais e viu que sua mãe estava num sono muito profundo.

- Foi ao quarto da babá e viu, através da fechadura, o pai na cama
transando com ela.

Como os dois nem percebiam a batidas que o menino dava na porta, ele
voltou para o quarto e dormiu.

Na manhã seguinte, na hora do café, ele falou para o pai:

- Pai, agora acho que entendi o que é política.

- Ótimo filho! Então me explica com suas palavras.

- Bom, pai, acho que é assim: Enquanto o poder económico fode a classe

trabalhadora, o governo dorme profundamente.

O povo é totalmente ignorado e o futuro do país fica na merda!!!

domingo, 4 de setembro de 2011

Curso rápido de Economia

Curso rápido de Economia:


Um viajante chega a um hotel para dormir, mas pede para almoçar e ver o quarto.

Entretanto, entrega ao recepcionista duas notas de 100 euros, marcadas.

Após o almoço  o viajante inspecciona os quartos, e durante este tempo passou-se o seguinte : o gerente do hotel sai a correr com as duas notas de 100€, e vai à mercearia ao lado pagar uma dívida antiga, ... exactamente de 200 euros.

Surpreendido pelo pagamento inesperado da dívida, o merceeiro aproveita para pagar a um fornecedor uma dívida que tinha há muito... também de 200 euros.

O fornecedor, por sua vez, pega também nas duas notas e corre à farmácia, para liquidar uma dívida que aí tinha de ... 200 euros.

O farmacêutico, com as duas notas na mão, corre disparado e vai a uma casa de alterne ali ao lado, liquidar uma dívida com uma prostituta. ... coincidentemente, a dívida era de 200 euros.

A prostituta agradecida, sai com o dinheiro em direcção ao hotel, lugar onde habitualmente levava os seus clientes e que ultimamente não havia pago pelas acomodações. Valor total da dívida: ... 200 euros.

Ela avisa o gerente que está a pagar a conta e coloca as notas em cima do balcão.

Nesse preciso momento, o viajante retorna da inspecção aos quartos, diz não ser o que esperava, pega nas duas notas de volta (reconhece que são as que entregou), agradece e sai do hotel.

Ninguém ganhou ou gastou um cêntimo, porém agora toda a cidade vive sem dívidas, com o crédito restaurado e começa a ver o futuro com confiança!

MORAL DA HISTÓRIA:
NINGUÉM ENTENDE A ECONOMIA!
(nem o indvíduo que escreveu isto!)

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Superioridade numérica do Homo sapiens ajudou à extinção do Neandertal

 Em poucos milénios o Sul da França passou de uma região dominada pelos Neandertais para um território do homem moderno. A superioridade tecnológica e social são argumentos para explicar o fim desta espécie, mas um novo estudo acrescenta uma perspectiva numérica ao processo. Um artigo publicado na revista Science mostra que existiam dez vezes mais homens modernos do que Neandertais naquela região europeia.

O Neandertal despareceu à medida que os humanos modernos entraram pela Europa
O Neandertal despareceu à medida que os humanos modernos entraram pela Europa (Wikipedia)

Estima-se que há cerca de 45.000 anos os nossos antepassados entraram pela Europa vindos de África. Eram diferentes das populações humanas de Neandertais que há 300.000 anos proliferavam no clima frio da Europa. O homem moderno tinha uma anatomia diferente, tecnologias novas e provavelmente estabelecia relações sociais diferentes. Em poucos milénios foi substituindo os Neandertais à medida que conquistava o continente.


No caso do Sul de França, as populações de Neandertais foram totalmente substituídas pelos humanos em 5000 anos. A ideia de Paul Mellars e de Jennifer C. French – da Universidade de Cambridge, Reino Unido – foi estudar a densidade populacional que existiu naquela região durante este fenómeno, para tentar compreender esta extinção.“Qualquer processo de substituição de populações e de extinção resume-se no final a uma questão de números: o aumento da população que invade versus o declínio da população residente”, explicam os autores no artigo publicado na passada sexta-feira.Para perceber estes números, os investigadores definiram uma área de 75.000 quilómetros quadrados e foram analisar os locais arqueológicos entre os 55.000 e os 35.000 anos. Os sítios que datam entre os 55.000 e 40.000 anos estão associados ao Neandertal, os vestígios dos cinco milénios seguintes já foram deixados pelos nossos antepassados.Os cientistas descobriram que da passagem dos Neandertais para os humanos modernos houve um aumento significativo dos sítios arqueológicos, maiores áreas de ocupação de cada local e uma densidade populacional nesses locais que era superior aos Neandertais. Este aumento de densidade está reflectido num maior número de restos alimentares e de utensílios. De acordo com os autores, esta três factores mostram que a população de humanos modernos que penetrou na região era dez vezes superior aos Neandertais. “Esta informação indica que isoladamente, uma supremacia numérica terá sido um factor poderoso, ou mesmo esmagador, numa competição directa territorial e demográfica entre os humanos directos e os Neandertais”, explicam os autores, que sugerem fazer-se o mesmo tipo de análise noutras regiões da Europa.

in... "Público"

sábado, 16 de julho de 2011

Portugal é isto?????

Tributo a Lisboa

POR 

Woody Allen deveria filmar também em Lisboa

publicado em 
Este não é um texto sobre Woody Allen. É um ensaio/tributo a Lisboa. Mais: é um passeio pela história do Fado e seus mitos
Foto: oscuroabismo
Já me disseram que há um ditado que nos lembra que conhecer o mundo sem ir a Sintra não seria realmente conhecer o mundo. Bem, não há como discordar, mas acredito que pecado maior é ir a Lisboa e não ouvir fado.
Estamos em Lisboa já há alguns dias, R. e eu, e ainda não ouvimos fado. Ou antes: ainda não fomos a uma casa de fado, pois já ouvimos fadistas na rua e também a música, quase sempre de Amália Rodrigues, que sai das lojas de discos (percebo que escrevi “discos” em vez de “CDs”: muitas vezes, palavras entregam a idade). E há uma mendiga cega na Rua Augusta que sempre está cantando e balançando seu copo para recolher moedas; seu lamento, do qual não entendo nada, fere de um modo pungente meu coração. (Não sei se R. também se sente assim, preciso perguntá-la sobre isso — aliás, noto agora, me parece que ela ainda não reparou na mendiga, o que pode significar que os vinhos que tenho bebido talvez estejam fazendo com que eu transforme coisas banais em situações memoráveis. Passarei um dia sem vinho para conferir. Se não encontrar a velhinha novamente, com certeza ficarei não apenas um, mas muitos dias sem beber.)
Iremos, claro, ouvir a música na fonte. Antes da aula prática de fado, porém, faço minhas pesquisas e descubro coisas do balacobaco (uma curiosidade: a palavra balacobaco tem uma certa ligação com o samba; qual seria, se é que existe, a palavra equivalente para o fado?).
O fado tem, como todos os tipos de música, seus mistérios; por exemplo, não há concordância sequer em relação a sua origem. Para alguns, ele vem da música dos invasores árabes; para outros, ele descende dos cantos dos trovadores; há ainda quem o queira fruto das canções dos marinheiros portugueses que correram o mundo. Muita gente, contudo, crê que o fado, vejam só, viria da nossa música, da modinha e do lundu, influência brasileira (e africana) que teria chegado a Lisboa com o retorno da Família Real, em 1821, do Brasil, onde ela aportara, em 1808, fugida das tropas napoleônicas.
Essa versão de origem brasileira do fado tem defensores famosos. Mário de Andrade é um deles, tendo até escrito um artigo sobre o assunto, “As Origens do Fado”, publicado em 1930. E Manuel Antônio de Almeida sempre é lembrado por ter descrito, em “Memórias de um Sargento de Milícias”, várias passagens em que há fado — mas, se me lembro bem das leituras da minha adolescência, esse fado descrito no livro era uma dança, o que José Ramos Tinhorão, imagino, também demonstra em “Fado: Dança do Brasil, Cantar de Lisboa. O Fim de um Mito”, publicado por editora portuguesa (não tenho o livro, que descobri noutro livro de Tinhorão e venho procurando nas livrarias de Lisboa; portanto, por ora apenas especulo para depois, quando conseguir um exemplar, conferir).
Com tantas incertezas, fico com algumas definições, por assim dizer, mais poéticas. Uma delas é a do fado “Tudo Isto é Fado”, que Amália, sempre ela, tornou famoso:
Perguntaste-me outro dia
Se eu sabia o que era o fado
Disse-te que não sabia
Tu ficaste admirado
Sem saber o que dizia
Eu menti naquela hora
Disse-te que não sabia
Mas vou-te dizer agora

Almas vencidas
Noites perdidas
Sombras bizarras
Na Mouraria
Canta um rufia
Choram guitarras
Amor e ciúme
Cinzas e lume
Dor e pecado
Tudo isto existe
Tudo isto é triste
Tudo isto é fado

Se queres ser meu senhor
E teres-me sempre a teu lado
Não me fales só de amor
Fala-me também do fado
O fado é meu castigo
Só nasceu para me perder
O fado é tudo o que eu digo
Mais o que eu não sei dizer

Outra definição (explicação talvez seja a palavra mais exata), agora do poeta José Régio (“Fado Português”), liga o fado às viagens marítimas — e o poema também é cantado como fado por Amália:
O fado nasceu num dia
Em que o vento mal bulia
E o céu o mar prolongava,
Na amurada dum veleiro,
No peito dum marinheiro
Que estando triste, cantava.(...)

De qualquer modo, é certo que o fado se alastrou pelos bairros pobres de Lisboa — ele tem uma nítida identidade urbana —, isso aí pela primeira metade do século 19. Depois, ele foi aos poucos ganhando os salões mais requintados, como talvez fosse previsível que acontecesse — o tango, por exemplo, teve destino semelhante.
Com a chegada de Salazar ao poder, houve, de início, censura de letras: um decreto até proibiu os “cantos avinhados de vozes roucas e guitarras pífias”. Mas o fado acabou por se tornar um dos chamados três efes da ditadura: fado, futebol e Fátima (o santuário), o que o levou a uma espécie de ostracismo após a revolução de abril de 1974, a Revolução dos Cravos, por conta dessa identificação, para muitos injusta, do fado com o Estado Novo português (para outros, a identificação não era exagerada: Amália Rodrigues foi até vista chorando no enterro de Salazar). (Uma nota que nada tem a ver com o fado: Manuel, nosso motorista de táxi de vastos bigodes portugueses — os motoristas de táxi de Lisboa, confirmando a piada, se chamam mesmo Joaquim ou Manuel —, disse-nos que “Salazar foi bom para quem não foi preso”. Não percebi ironia nas suas palavras.)
Com o tempo, o caráter de esquerda da Revolução foi serenando, e o fado, a partir da década de 80, começou a sair da redoma que lhe fora imposta. Hoje, como toda música identificada com um país, a exemplo do tango e do samba, tem servido para tudo, desde valorizar a identidade nacional até alavancar o turismo. Também seguindo a mesma toada de outras músicas nacionais, tem havido a valorização de fados tradicionais ao mesmo tempo em que são feitas as mais curiosas experimentações, as quais permitiram que se começasse a falar num “novo fado”, com a cantora Mísia como uma espécie de ícone desse movimento não organizado (e atenção, leitor, o famoso grupo Madredeus não é fadista, e a também famosa Dulce Pontes não é estritamente uma cantora de fado, já que interpreta outros tipos de música).
Há algumas figuras sagradas no panteão dos fadistas. Maria Severa Onofriana, uma espécie de mito fundador, uma protofadista, foi uma prostituta que viveu em Lisboa há quase dois séculos: nasceu em 1820 e morreu em 1846, na Mouraria, com fama de grande cantora. Alfredo Marceneiro (1890-1982), cantor um tanto solene, foi um dos mais venerados entre os fadistas homens. E, claro, há a onipresente Amália Rodrigues, que nasceu em 1920 e estreou, com 19 anos (19!), na legendária casa Retiro da Severa, no Bairro Alto; Amália, falecida em 1999, é a “maior figura de sempre” do fado, como dizem os portugas.
Assim, o que se percebe é que o fado, com ou sem ditadura, novo ou velho, talvez seja o mais forte elemento de identidade nacional de Portugal. Algumas músicas mostram essa profunda ligação entre o fado e a gente portuguesa, como o singelo “Ó Gente da Minha Terra”, que, apesar de ser de autoria de Amália Rodrigues e Tiago Machado, prefiro na voz de Mariza:
(...)
Ó gente da minha terraAgora é que percebiEsta tristeza que tragoFoi de vós que recebi(...)
Feita a lição de casa, pergunto-me: onde é que se canta e toca o fado hoje? Em Lisboa, há casas de fado por toda a cidade, e não poderia ser diferente, pois foi onde ele, quaisquer que tenham sido as suas influências, se fixou de modo definitivo na primeira metade do século 19. Muitas ficam no Bairro Alto e na Mouraria (nome que nos faz ter vontade de lá ter nascido apenas para dizer “sou da Mouraria”), mas as mais conhecidas são as da Alfama, bairro que se alastra, ladeira abaixo, do Castelo de São Jorge até o Tejo, repleto de ruelas e escadarias que lembram a sua origem medieval.
Portanto, contra fados não há argumentos. À Alfama, então, já que o bairro “não tem outra canção”, como cantou Amália no fado chamado — surpresa! - “Alfama”:
(...)
Alfama não cheira a fadoCheira a povo, a solidãoCheira a silêncio magoadoSabe a tristeza com pãoAlfama não cheira a fadoMas não tem outra canção 
Não faltam casas de fado no bairro, mas ficamos em dúvida entre duas, diferentes nas suas propostas. O Clube de Fado é, por assim dizer, mais turístico, não tanto como o Viejo Almacén, em Buenos Aires, que tanto estilizou o tango que o transformou num espetáculo insosso, mas é, ainda assim, frequentado praticamente só por estrangeiros. Fica próximo à Sé — cuja vista é magnífica à noite —, na Rua de São João da Praça, um pouco antes da verdadeira Alfama. Já a Parreirinha de Alfama, no Beco do Espírito Santo, é uma casa mais rústica, com pé-direito baixo e entrada estreita. Também ela parece destinada aos turistas — e o que não é, nestes tempos globalizados? —, mas lá ainda aparecem muitos lisboetas (ia escrevendo “alfacinhas”, mas não sei se isso seria aceitável ou ofensivo). Optamos, então, pela Parreirinha. 
Caminhamos na noite fria, mas limpa e agradável, desde nosso hotel, na Baixa, até a Parreirinha. As ruelas são intrincadas; porém, cumprindo uma atávica atividade masculina, estudei antes o mapa e, com poucos erros e pedidos de informações, alcançamos nosso objetivo. Por sorte, conseguimos a última mesa vaga; ao lado, muito perto de nós, há um casal de portugueses de meia-idade. Na entrada, recebeu-nos uma senhora idosa, que depois descobrimos ser Argentina Santos, dona do pedaço, talvez a última cantora de fado tradicional, castiço (ou fado fado, como às vezes se diz). Ela nasceu em 1926 — portanto, já passou dos 80 anos — e abriu o restaurante em 1950. Ao seu lado, um senhor também idoso, elegante e discreto. A noite com certeza promete.
O local é um tanto apertado, com as mesas pegadas umas nas outras — onde moramos, isso é defeito; em viagens, é charmoso. Conseguimos chamar a atenção da garçonete, que corre atarefada entre as mesas, e então pedimos nossos pratos e o vinho e aguardamos o espetáculo. A comida — jantamos bacalhau, claro — é saborosa sem ser marcante. Lá pelas tantas (meço o tempo pelo vinho: na segunda garrafa), num espaço que se abre entre as mesas, no meio do restaurante, os músicos se juntam e iniciam o espetáculo; a cada três ou quatro músicas há uma interrupção para que os clientes façam seus pedidos, e nessa hora os músicos são trocados.
Nada de especial acontece durante as primeiras músicas. Mas em algum momento um forte sentimento, surgido talvez da acumulação de vinho bebido e fados já cantados, toma conta rapidamente do restaurante, e os portugueses vão juntando suas vozes, comovidos, às vozes dos músicos, enquanto os estrangeiros tentam repetir os refrões que não entendem — uns ingleses numa mesa próxima são especialmente cômicos nessa tentativa, repetindo desajeitamente as palavras: as que terminam em “ão” saem como tijolos de suas bocas.
A emoção é grande quando todos cantam os versos “Coimbra tem mais encanto/Na hora da despedida”, da famosa “Balada da Despedida”, e atinge o seu auge, logo depois, com Argentina, agora vestindo o obrigatório xale preto, cantando “Volta Atrás, Vida Vivida”, acompanhada ao violão — ou guitarra portuguesa, não sei bem — pelo senhor que estava ao seu lado quando chegamos (curiosos, nos perguntamos se ele seria seu marido). A letra arranca pedaços de nós:
Volta atrás, vida vivida
Para eu tornar a viver
Aquela vida perdida
Que nunca soube viver
Voltar de novo, quem dera
A tal tempo, que saudade
Volta sempre a primavera
Só não volta a mocidade
A vida começa cedo
Mas assim que ela começa
Começamos por ter medo
Que ela se acabe depressa
O tempo vai-se passando
E agente vai-se iludindo
Ora rindo ora chorando
Ora chorando ora rindo
Meu Deus, como o tempo passa
Dizemos de quando em quando
Afinal o tempo fica
A gente é que vai passando 

Argentina Santos  
A velha Argentina Santos impõe-se, todos nós estamos com a atenção centrada nela, que não se abala e é toda seriedade: a mulher não esboça nenhum sorriso. Depois de cantar o refrão muitas vezes — e cada repetição é um lâmina espetada em nós —, ela encerra e deixa a clareira entre as mesas, carregando consigo nossas dores e saudades. Caminha no exíguo espaço entre as mesas com o queixo apontando para o alto; o brio de quem sabe que merece toda a atenção até nos faz esquecer o cenário pouco digno, com garçons correndo, barulho de copos e cadeiras arrastadas. Fascinado, eu a sigo com os olhos; seu porte me faz lembrar as mulheres duras e longevas da minha família - imagino que ela seja uma dessas rochas que esteiam todo um clã. R. e eu, machucados na alma, aplaudimos e tomamos largos goles do vinho, talvez tentando cauterizar as feridas.
Após mais um intervalo, há ainda Luís Tomar, competente e compenetrado no seu terno escuro, bem mais novo do que a anfitriã — devia estar na primeira dentição quando Argentina já fazia sucesso na Parreirinha. Ele parece ser o preferido de muitos, principalmente de alguns portugueses que, acredito, sejam clientes cativos da casa (mas não é o meu: Argentina tem o meu voto). Escrevendo agora, lembrei-me de uma descrição de uma sessão de fado que emocionou a norte-americana Frances Mayes, autora de best sellers sobre sua mudança dos EUA para a Toscana (“Sob o Sol da Toscana” e “Bela Toscana”); tenho certeza, sem ter ainda relido o texto, que ela se refere a Tomar e à Parreirinha. Procuro o livro, “Um Ano de Viagens”, e vejo que acertei na mosca (ela não cita expressamente a casa nem Argentina Santos, mas a descrição do local e o fato de Luís Tomar ser mencionado comprovam que foi na Parreirinha que ela teve “sua espinha dorsal transformada num fio elétrico”, como escreveu):
“O próximo cantor nos derruba de nossas cadeiras. É tão inverossímil! A fadista se encaixa no seu papel, mas Luís Tomar, rígido no seu terno, poderia estar vendendo apólices de seguros. Só para provar que não se deve julgar ninguém pela aparência, a sua voz, tão carregada de emoção contida, cinde os átomos da sala. A paixão ameaça subjugar a canção a qualquer momento, mas permanece contida, num timbre que corresponde exatamente às sinapses dos seus próprios sonhos e anseios íntimos. Gostaria que ele não parasse mais de cantar.”
Tomar, mesmo contido, parte para uns fados mais alegres, como “Oiça Lá, Ó Senhor Vinho”, seguido mais uma vez por todos; os ingleses sofrem de novo com as palavras, cantadas muito rapidamente e com a costumeira omissão de vogais:
Oiça lá, ó senhor vinho
Vai responder-me, mas com franquezaPor que é que tira toda a firmezaA quem encontra no seu caminho(...)Vossa Mercê tem razãoE é ingratidãoFalar mal do vinhoE a provar o que digoVamos, meu amigoA mais um copinho
Argentina Santos é às vezes difícil de entender (o verso “Para eu tornar a viver” vira algo como “Pa ieu turnar a v’ver”), já Tomar tem menos acento português. Mas também ele, depois de deixar todos ofegantes com seus fados rápidos, encerra sua parte. E eu lamento que ninguém cante “Estranha Forma de Vida”, talvez o fado mais famoso interpretado por Amália; eu o conheço desde menino (não poderia dar certo: os garotos da minha idade brincando de pique e eu ouvindo fado). Queria ouvi-lo por isso, por sabê-lo de cor há muito tempo, mas também porque sua letra combina com os turbulentos dias que tenho vivido (melhor dizendo: que estava vivendo no Brasil):
Foi por vontade de Deus
Que eu vivo nesta ansiedadeQue todos os ais são meusQue é toda a minha a saudadeFoi por vontade de Deus
Que estranha forma de vida
Tem este meu coraçãoVive de forma perdidaQuem lhe daria o condãoQue estranha forma de vida
Coração independente
Coração que não comandoVive perdido entre a genteTeimosamente sangrandoCoração independente
Eu não te acompanho mais
Pára, deixa de baterSe não sabes onde vaisPor que teimas em correrEu não te acompanho mais
Ninguém cantou, paciência, pois o espetáculo termina; pagamos então nossa conta e deixamos a Parreirinha. A noite esfriou muito, a temperatura com certeza está abaixo dos dez graus. Embrulhados nos nossos capotes, R. e eu saímos para enfrentar o frio. As ruas encheram-se, há muita gente nos bares, talvez tomando a última ginjinha (“com ou sem?”, perguntam sempre os portugueses para que os clientes digam se querem ou não a bebida com as ginjas, frutinhas parecidas com cereja e com as quais o licor é feito). A emoção da música que ouvimos ainda está conosco, o frio aumenta mais ainda, a alegria das pessoas nos bares contrasta com a tristeza das letras dos fados. Olho R., especialmente bonita e elegante na sua roupa de inverno, noto que ela está feliz pelo fato de estar em outro país (ela é uma dessas mulheres em que a alegria transforma-se em mais beleza física) e penso que vivemos uma dessas ocasiões que marcam qualquer viagem, um dos momentos que ficarão gravados fortemente na memória e que serão repetidos à exaustão aos amigos. No retorno a casa, a soma de cinco ou seis desses momentos torna-se a própria viagem.
Vamos seguindo, sem trocar muitas palavras, para o hotel. E pensando no que vi e no que ainda verei (espero que sempre na companhia de R.), lamentando “Que estranha forma de vida/Tem este meu coração” e lembrando que “Afinal o tempo fica/A gente é que vai passando”, constato mais uma vez que somente estas novas experiências — viagens, literatura, música, gastronomia — podem me suspender um pouco acima da mediocridade em que vivo, sempre envolvido por obrigações e horários a cumprir e sufocado pelas agressões da vida moderna. Como Fernando Pessoa (Álvaro de Campos), que era português dos pés à cabeça, eu “tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas”; como ele, eu sou também “vadio e pedinte”, e sei que “Sim, ser vadio e pedinte, como eu sou,/Não é ser vadio e pedinte, o que é corrente:/É ser isolado na alma, e isso é que é ser vadio,/É ter que pedir aos dias que passem, e nos deixem, e isso é que é ser pedinte”. Mas Lisboa e sua música alçaram-me, ainda que por breves momentos, acima disso tudo. E o fado encheu-nos, a mim e a R., da obsessiva saudade portuguesa, essa saudade que já se definiu como uma melancolia feliz e que é “um mal, de que se gosta, e um bem, que se padece” (D. Francisco Manuel de Mello) — mas, ai de nós, ninguém mais sente saudades como nos tempos de Amália. Saudoso - melancólico e feliz ao mesmo tempo —, livre das minhas agruras habituais, leio de novo, no hotel, Pessoa-Álvaro de Campos, e agora é mais forte a ideia de que eu mereço, de que R. merece mais noites assim e menos obrigações maçantes: “Tão pouca heráldica a vida!/Tão sem tronos e ouropéis quotidianos!/Tão de si própria oca, tão de sentir-se despida/Afogai-me, ó ruído da acção, no som dos vossos oceanos!”.
É tarde. Com a música de certa forma ainda presente, olho R., já adormecida, e peço que o fado — sinônimo de “destino” — nos seja leve e que não tenhamos nunca de pedir: “Volta atrás, vida vivida”.