domingo, 30 de janeiro de 2011

"Todas as canções" de José Afonso reúnidas em livro

O livro “José Afonso – Todas as Canções” foi apresentado sexta-feira à noite, no Porto, e reúne as partituras, letras e cifras das 159 músicas originais criadas pelo cantor, falecido em 1987.
“É uma boa coisa ter-se finalmente conseguido publicar este livro”, começou por referir José Mário Branco, um dos quatro autores deste livro, dirigindo-se às mais de cem pessoas que se deslocaram à Fundação José Rodrigues para a apresentação da obra.
José Mário Branco, que conheceu bem Zeca Afonso e com ele fez vários trabalhos e espetáculos, lamentou ter sido preciso “esperar quase um quarto de século por um livro como este”, igualmente assinado por Guilhermino Monteiro, João Lóio e Octávio Fonseca, também eles músicos.
Decorreram “seis anos” entre o início do trabalho e a sua publicação, tudo devido à oposição de um familiar, que não deu a necessária autorização, segundo explicou.
“Foi muito triste e muito chato”, completou José Mário Branco, referindo-se a esse contratempo, que seria depois ultrapassado com a entrada em cena de uma filha de Zeca Afonso.
Octávio Fonseca disse à Agência Lusa que “aqui só estão publicadas as canções que foram editadas em disco, com exceção dos fados de Coimbra que não são da autoria dele, de resto, está tudo”.
“Se formos a ver, é a primeira vez que em Portugal há a obra completa de um cantautor publicada”, referiu ainda.
Com edição da Assírio & Alvim, o livro “José Afonso – Todas as Canções” é fruto de um “trabalho muito árduo”, continuou Octávio Fonseca, especificando que “há canções que se escreveram em cinco minutos, mas há canções que demoraram seis horas a escrever”.
A sua conclusão é que a música de José Afonso não tem, afinal, nada de simples, ao contrário do que alguns opinam.
“Desafiava essas pessoas a escreverem a sua música para verem se é simples ou não”, rematou.
O autor deparou-se com temas “muito difíceis”, como por exemplo os do álbum Eu Vou Ser Como a Toupeira, de 1972, do qual faz parte a célebre canção A Morte Saiu à Rua.

José Mário Branco traçou um breve retrato sobre Zeca Afonso.

“É um caso raro na música popular no mundo”, sintetizou.
Como cidadão, “nunca vergou a espinha na vida dele”, destacou também.
“É o nosso mestre”, reforçou, recordando que ele próprio e Sérgio Godinho tinham a “marca afonsina” já em 1967, quando se conheceram em Paris, França.
Para Guilhermino Monteiro, “ainda há um trabalho teórico a fazer em torno da obra” deste cantautor, que influenciou vários músicos da sua geração, mas também os mais jovens.
José Mário Branco contou que volta regularmente à música de Zeca Afonso: “Todas as vezes encontro dados novos”.
“A surpresa foi uma constante” durante a realização deste livro”, corroborou, por sua vez, Guilhermino Monteiro.
Com este livro, os autores esperam contribuir para um melhor conhecimento e estudo deste precioso património” que é a obra musical de José Afonso, alguém que, segundo José Mário Branco, “tinha coisas para dizer à gente”.Lusa

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Homo Sapiens

Estes machados encontrados na Península Arábica têm 125 mil anos e levaram os cientistas a uma nova hipótese (Universidade de Tübingen)

Ferramentas de pedra encontradas na Arábia põem em causa a visão consensual

O "Homo sapiens" terá começado a espalhar-se pelo mundo muito mais cedo, há 125 mil anos

Por Ana Gerschenfeld

E se, há uns 125 mil anos, muitas dezenas de milénios antes de se lançarem à conquista da Europa e do resto do mundo, vindos do seu berço africano, os primeiros humanos modernos tivessem começado por atravessar um estreito braço de mar para se instalarem em terras que hoje fazem parte dos Emirados Árabes Unidos? Uma equipa internacional de arqueólogos, liderada por Hans-Peter Uerpmann, da Universidade Eberhard Karls de Tubingen, sugere precisamente isso, com base em escavações realizadas na localidade de Jebel Faya, a uns 50 quilómetros do Golfo Pérsico. Os seus resultados são publicados sexta-feira na revista "Science".
O debate sobre como e quando os primeiros homens modernos emigraram de África e se espalharam pelo mundo vem de longe. Há quem diga que houve uma única vaga de migração e quem diga que houve várias. Mas seja como for, os dados conhecidos até aqui indicavam que o êxodo tinha acontecido há mais ou menos 60 mil anos. Quanto à rota seguida por aqueles emigrantes até a Europa e Ásia, também aí havia consenso: através do Vale do Nilo e do Médio Oriente.
O que os cientistas encontraram agora na Península Arábica são ferramentas que, segundo eles foram fabricadas com tecnologias semelhantes às utilizadas pelas populações de "Homo sapiens" que viviam no Leste de África, mas diferentes das tecnologias originárias do Médio Oriente. Isso não seria problemático se elas tivessem menos de 60 mil anos de idade. Mas acontece que, quando foram datadas (pela técnica dita de luminescência), revelaram ter... 125 mil anos.
Ou seja, estas ferramentas — pequenos machados e lâminas de pedra, entre outros — parecem contar uma história diferente. Uma história de emigração directa, há muito mais tempo, de África para a Arábia — e daí, dizem os cientistas, para o Crescente Fértil e para a Índia. Porém, nem todos os especialistas concordam com esta interpretação.
“Os humanos ‘anatomicamente modernos’ — como nós — emergiram em África há uns 200 mil anos e a seguir povoaram o resto do mundo”, diz em comunicado Simon Armitage, da Universidade de Londres e co-autor do trabalho. “Os nossos resultados deveriam estimular uma reavaliação da maneira como nós, os humanos modernos, nos tornamos uma espécie global.”
Os cientistas analisaram ainda as condições climáticas que reinavam na região há uns 130 mil anos, durante o último período interglaciar, para ver se a passagem de África para a Arábia teria sido fácil. E de facto, concluíram que o estreito de Bab al-Mandab, que separa a Península Arábica do Corno de África, tinha naquela altura pouca água devido ao baixo nível do mar, permitindo a passagem em segurança sem grandes problemas.
E mais: a Península Arábica era então uma região muito mais húmida, com vegetação abundante, com lagos e rios — muito mais acolhedora do que hoje. “Em Jebel Faya”, salienta Armitage, “a datação revela uma visão fascinante, na qual humanos modernos emigraram de África muito mais cedo do que se pensava, ajudados pelas flutuações globais do nível do mar e pelas mudanças climáticas.”

Uma voz dissonante

Num artigo jornalístico que acompanha na revista "Science" a publicação dos resultados da datação das ferramentas de Jebel Faya, surge uma voz dissonante entre os comentários entusiastas de vários especialistas. Paul Mellars, arqueólogo da Universidade de Cambridge, diz que, quanto a ele, apesar da descoberta das ferramentas ser importante e a datação bem feita, as conclusões estão erradas.
“Não há qualquer indício aqui que sugira que foram feitas por humanos modernos, nem de que eles vinham de África”, declara. E salienta que, ao contrário do que afirmam os autores da descoberta, não fica excluída de forma convincente a hipótese de se tratar de ferramentas fabricadas pelos Neandertais — ou até pelo "Homo erectus", antepassado dos humanos modernos que se sabe ter emigrado de África para Ásia há cerca de 1,8 milhões de anos.
Hans-Peter Uerpmann, um dos líderes da equipa que fez as escavações em Jebel Faya, concede que para “poder ter a certeza absoluta” de que as ferramentas foram fabricadas pelo Homo sapiens, vai ser preciso encontrar ossos fossilizados. Várias equipas de arqueólogos já declararam que tencionam lançar-se nessa procura.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Discípula de Belzebú

Tens a mente doentia,desiquilibrada
Transportas em ti mil frustrações;
Pobre infeliz ... de postura desbravada
Mestre na cobardia,medíocre nas acções!

Qual piton no seu covil emboscada,
De letal veneno em grandes proporções;
Espreitas a vitima indefesa, desgraçada
Envolta na mais reles das motivações!

Mesmo as feras em estado selvagem
Têm afectos,dedicação e coragem
Na defesa intransigente da sua raça.

Mas tu, como que por estranha maldição,
Perversa criatura,da natureza aberração,
Apenas em Belzebu...o teu estado de graça!

12.03.2005
José C. Ramalho - Direitos de Autor Reservados / SPA






terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Um eterno par romântico

Face ao estatuto mitológico de Casablanca, não deixa de ser irónico pensar que tudo poderia ter sido muito diferente...
Afinal de contas, chegaram a circular rumores de que o personagem de Humphrey Bogart (Rick Blaine, proprietário do "Rick's café", em Casablanca) seria interpretado por Ronald Reagan; Ann Sheridan e Hedy Lamarr foram também nomes considerados para Ilsa Lund, antes de o estúdio ter optado por Ingrid Bergman. além do mais, ficou lendário o secretismo que envolveu a escrita do argumento, a ponto de, durante grande parte da rodagem, os actores desconhecerem o que aconteceria na cena final de despedida no aeroporto.
Para Bogart, aos 43 anos, o filme funcionaria como um momento decisivo na evolução da sua "persona" cinematográfica. até aí consagrado como símbolo do filme de gangsters (relíquia macabra surgira um ano antes), ganhou, com Casablanca, a dimensão de herói romântico: por alguma razão, Bogart & Bergman persistem como um modelo universal do romantismo cinéfilo.
Dirigido por Michael Curtiz, um dos mestres europeus de Hol- lywood (era de origem húngara, nascido em 1886), Casablanca transformar-se-ia num dos principais símbolos do "filme de guerra": a estreia em Nova Iorque (Novembro de 1942) foi mesmo agendada para ecoar a invasão do norte de áfrica pelas tropas aliadas. nos óscares, foi consagrado como melhor filme do ano, vencendo também nas categorias de realização e argumento.

in... DN Artes

domingo, 16 de janeiro de 2011

Na loucura da noite



Depois de um jantar
em que tudo foi menos isso,
mãos nas mõas...
olhos nos olhos...
e uma lareira acessa
tal qual nossos corpos...
com um tremor de nao querer

A luz quente faz deleniar a tua face
tu olhas para mim fixamente
e acaricias-me os cabelos soltos
pedido-me em silencio um beijo

O meu corpo estremece
digo que "não"mas dando
o beijo tão querido e tão apetecido
Fecho os olhos, e deixo-me voar....

O meu corpo se transforma
tal qual uma flor
que se deixa beijar pelo orvalho da manhã
e acariciado pelas tuas mãos como brisas.....

Vem, pelos meus cantos
e recantos, descobrir
amar, levar a loucura
para te levar comigo tambem......

Duas sensações numa só
Dois corpos num só
num amar louco de beijos
caricias, de nossos corpos
e um cair de petala a petala
de uma flor que por muito querer
na loucura da noite fui tua

Maria Fátima Porto

domingo, 9 de janeiro de 2011

Cavaco e o bando do BPN

Estamos quase em eleições,
Para eleger um presidente;
Não acabam as confusões,
Dos politicos aldrabões
E quem se lixa é a gente.

No reino do cavaquistão,
Só jogadas e compadrios;
E o Zé Povinho sem tostão,
Vai ter que estender a mão,
Porque fica a ver navios.

Os impostos sempre a subir,
A inflacção a galopar…
Para que uns possam sorrir,
Os outros ficam a ganir;
… É para isso que vais votar?

Isto só já vai à paulada,
Não é verdade, Zé Povinho?
Ter que aturar esta cambada,
Que roubam à descarada,
E tens que ficar caladinho?

O Cavaco ensacou milhões,
E quer mais tacho o glutão;
Tu ficas a contar os tostões,
E ele no negócio das acções,
Um verdadeiro tubarão.

José C. Ramalho - Direitos de Autor Reservados / SPA

sábado, 8 de janeiro de 2011

Alentejo

Folheia-se o caderno e eis o sul
E o sul é a palavra. E a palavra
Desdobra-se
No espaço com suas letras de
Solstício e de solfejo
Além de ti
Além do Tejo

Verás o rio e talvez o azul
Não o de Mallarmé: soma de branco e de vazio
Mas aquela grande linha onde o abstracto
Começa lentamente a ser o
Sul

Outro é o tempo
Outra a medida

Tão grande a página
Tão curta a escrita

Entre o achigã e a perdiz
Entre chaparro e choupo

Tanto país
E tão pouco

Solidão é companheira
E de senhor são seus modos
Rei do céu de todos
E de chão nenhum

À sombra de uma azinheira
Há sempre sombra para mais um

Na brancura da cal o traço azul
Alentejo é a última utopia

Todas as aves partem para o sul
Todas as aves: como a poesia

Manuel Alegre (Alentejo e ninguém)



Rosa albardeira -Baile Popular

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A indiferença

Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.
Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afectou
Porque eu não sou operário.
Depois prenderam os sindicalistas,
Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.
Logo a seguir chegou a vez de alguns padres,
mas como nunca fui religioso, também não liguei.
Agora levaram-me a mim
E quando percebi,
Já era tarde.

Bertolt Brecht