terça-feira, 4 de outubro de 2011

AULA DE SOCIOLOGIA POLÍTICA PARA CRIANÇAS


- Pai, eu preciso fazer um trabalho para a escola! Posso te fazer uma

pergunta?

- Claro, meu filho, Qual é a pergunta? - O que é política, pai? - Bem, meu filho,

política envolve:

1. povo;

2. governo;

3. poder econômico;

4. classe trabalhadora;

5. futuro do país.

- Não entendi. Dá para explicar?

- Bem, vou usar a nossa casa como exemplo:

Sou eu quem traz dinheiro para casa, então eu sou o poder econômico. Sua

mãe administra, gasta o dinheiro, então ela é o governo.

Como nós cuidamos das suas necessidades, você é o povo. Seu irmãozinho é o

futuro do país e a Zefinha, babá dele, é a classe trabalhadora.

Entendeu, filho? - Mais ou menos, pai. Vou pensar.

Naquela noite, acordado pelo choro do irmãozinho, o menino, foi ver o que

havia de errado.

Descobriu que o irmãozinho tinha sujado a fralda e estava todo emporcalhado.

Foi ao quarto dos pais e viu que sua mãe estava num sono muito profundo.

- Foi ao quarto da babá e viu, através da fechadura, o pai na cama
transando com ela.

Como os dois nem percebiam a batidas que o menino dava na porta, ele
voltou para o quarto e dormiu.

Na manhã seguinte, na hora do café, ele falou para o pai:

- Pai, agora acho que entendi o que é política.

- Ótimo filho! Então me explica com suas palavras.

- Bom, pai, acho que é assim: Enquanto o poder económico fode a classe

trabalhadora, o governo dorme profundamente.

O povo é totalmente ignorado e o futuro do país fica na merda!!!

domingo, 4 de setembro de 2011

Curso rápido de Economia

Curso rápido de Economia:


Um viajante chega a um hotel para dormir, mas pede para almoçar e ver o quarto.

Entretanto, entrega ao recepcionista duas notas de 100 euros, marcadas.

Após o almoço  o viajante inspecciona os quartos, e durante este tempo passou-se o seguinte : o gerente do hotel sai a correr com as duas notas de 100€, e vai à mercearia ao lado pagar uma dívida antiga, ... exactamente de 200 euros.

Surpreendido pelo pagamento inesperado da dívida, o merceeiro aproveita para pagar a um fornecedor uma dívida que tinha há muito... também de 200 euros.

O fornecedor, por sua vez, pega também nas duas notas e corre à farmácia, para liquidar uma dívida que aí tinha de ... 200 euros.

O farmacêutico, com as duas notas na mão, corre disparado e vai a uma casa de alterne ali ao lado, liquidar uma dívida com uma prostituta. ... coincidentemente, a dívida era de 200 euros.

A prostituta agradecida, sai com o dinheiro em direcção ao hotel, lugar onde habitualmente levava os seus clientes e que ultimamente não havia pago pelas acomodações. Valor total da dívida: ... 200 euros.

Ela avisa o gerente que está a pagar a conta e coloca as notas em cima do balcão.

Nesse preciso momento, o viajante retorna da inspecção aos quartos, diz não ser o que esperava, pega nas duas notas de volta (reconhece que são as que entregou), agradece e sai do hotel.

Ninguém ganhou ou gastou um cêntimo, porém agora toda a cidade vive sem dívidas, com o crédito restaurado e começa a ver o futuro com confiança!

MORAL DA HISTÓRIA:
NINGUÉM ENTENDE A ECONOMIA!
(nem o indvíduo que escreveu isto!)

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Superioridade numérica do Homo sapiens ajudou à extinção do Neandertal

 Em poucos milénios o Sul da França passou de uma região dominada pelos Neandertais para um território do homem moderno. A superioridade tecnológica e social são argumentos para explicar o fim desta espécie, mas um novo estudo acrescenta uma perspectiva numérica ao processo. Um artigo publicado na revista Science mostra que existiam dez vezes mais homens modernos do que Neandertais naquela região europeia.

O Neandertal despareceu à medida que os humanos modernos entraram pela Europa
O Neandertal despareceu à medida que os humanos modernos entraram pela Europa (Wikipedia)

Estima-se que há cerca de 45.000 anos os nossos antepassados entraram pela Europa vindos de África. Eram diferentes das populações humanas de Neandertais que há 300.000 anos proliferavam no clima frio da Europa. O homem moderno tinha uma anatomia diferente, tecnologias novas e provavelmente estabelecia relações sociais diferentes. Em poucos milénios foi substituindo os Neandertais à medida que conquistava o continente.


No caso do Sul de França, as populações de Neandertais foram totalmente substituídas pelos humanos em 5000 anos. A ideia de Paul Mellars e de Jennifer C. French – da Universidade de Cambridge, Reino Unido – foi estudar a densidade populacional que existiu naquela região durante este fenómeno, para tentar compreender esta extinção.“Qualquer processo de substituição de populações e de extinção resume-se no final a uma questão de números: o aumento da população que invade versus o declínio da população residente”, explicam os autores no artigo publicado na passada sexta-feira.Para perceber estes números, os investigadores definiram uma área de 75.000 quilómetros quadrados e foram analisar os locais arqueológicos entre os 55.000 e os 35.000 anos. Os sítios que datam entre os 55.000 e 40.000 anos estão associados ao Neandertal, os vestígios dos cinco milénios seguintes já foram deixados pelos nossos antepassados.Os cientistas descobriram que da passagem dos Neandertais para os humanos modernos houve um aumento significativo dos sítios arqueológicos, maiores áreas de ocupação de cada local e uma densidade populacional nesses locais que era superior aos Neandertais. Este aumento de densidade está reflectido num maior número de restos alimentares e de utensílios. De acordo com os autores, esta três factores mostram que a população de humanos modernos que penetrou na região era dez vezes superior aos Neandertais. “Esta informação indica que isoladamente, uma supremacia numérica terá sido um factor poderoso, ou mesmo esmagador, numa competição directa territorial e demográfica entre os humanos directos e os Neandertais”, explicam os autores, que sugerem fazer-se o mesmo tipo de análise noutras regiões da Europa.

in... "Público"

sábado, 16 de julho de 2011

Portugal é isto?????

Tributo a Lisboa

POR 

Woody Allen deveria filmar também em Lisboa

publicado em 
Este não é um texto sobre Woody Allen. É um ensaio/tributo a Lisboa. Mais: é um passeio pela história do Fado e seus mitos
Foto: oscuroabismo
Já me disseram que há um ditado que nos lembra que conhecer o mundo sem ir a Sintra não seria realmente conhecer o mundo. Bem, não há como discordar, mas acredito que pecado maior é ir a Lisboa e não ouvir fado.
Estamos em Lisboa já há alguns dias, R. e eu, e ainda não ouvimos fado. Ou antes: ainda não fomos a uma casa de fado, pois já ouvimos fadistas na rua e também a música, quase sempre de Amália Rodrigues, que sai das lojas de discos (percebo que escrevi “discos” em vez de “CDs”: muitas vezes, palavras entregam a idade). E há uma mendiga cega na Rua Augusta que sempre está cantando e balançando seu copo para recolher moedas; seu lamento, do qual não entendo nada, fere de um modo pungente meu coração. (Não sei se R. também se sente assim, preciso perguntá-la sobre isso — aliás, noto agora, me parece que ela ainda não reparou na mendiga, o que pode significar que os vinhos que tenho bebido talvez estejam fazendo com que eu transforme coisas banais em situações memoráveis. Passarei um dia sem vinho para conferir. Se não encontrar a velhinha novamente, com certeza ficarei não apenas um, mas muitos dias sem beber.)
Iremos, claro, ouvir a música na fonte. Antes da aula prática de fado, porém, faço minhas pesquisas e descubro coisas do balacobaco (uma curiosidade: a palavra balacobaco tem uma certa ligação com o samba; qual seria, se é que existe, a palavra equivalente para o fado?).
O fado tem, como todos os tipos de música, seus mistérios; por exemplo, não há concordância sequer em relação a sua origem. Para alguns, ele vem da música dos invasores árabes; para outros, ele descende dos cantos dos trovadores; há ainda quem o queira fruto das canções dos marinheiros portugueses que correram o mundo. Muita gente, contudo, crê que o fado, vejam só, viria da nossa música, da modinha e do lundu, influência brasileira (e africana) que teria chegado a Lisboa com o retorno da Família Real, em 1821, do Brasil, onde ela aportara, em 1808, fugida das tropas napoleônicas.
Essa versão de origem brasileira do fado tem defensores famosos. Mário de Andrade é um deles, tendo até escrito um artigo sobre o assunto, “As Origens do Fado”, publicado em 1930. E Manuel Antônio de Almeida sempre é lembrado por ter descrito, em “Memórias de um Sargento de Milícias”, várias passagens em que há fado — mas, se me lembro bem das leituras da minha adolescência, esse fado descrito no livro era uma dança, o que José Ramos Tinhorão, imagino, também demonstra em “Fado: Dança do Brasil, Cantar de Lisboa. O Fim de um Mito”, publicado por editora portuguesa (não tenho o livro, que descobri noutro livro de Tinhorão e venho procurando nas livrarias de Lisboa; portanto, por ora apenas especulo para depois, quando conseguir um exemplar, conferir).
Com tantas incertezas, fico com algumas definições, por assim dizer, mais poéticas. Uma delas é a do fado “Tudo Isto é Fado”, que Amália, sempre ela, tornou famoso:
Perguntaste-me outro dia
Se eu sabia o que era o fado
Disse-te que não sabia
Tu ficaste admirado
Sem saber o que dizia
Eu menti naquela hora
Disse-te que não sabia
Mas vou-te dizer agora

Almas vencidas
Noites perdidas
Sombras bizarras
Na Mouraria
Canta um rufia
Choram guitarras
Amor e ciúme
Cinzas e lume
Dor e pecado
Tudo isto existe
Tudo isto é triste
Tudo isto é fado

Se queres ser meu senhor
E teres-me sempre a teu lado
Não me fales só de amor
Fala-me também do fado
O fado é meu castigo
Só nasceu para me perder
O fado é tudo o que eu digo
Mais o que eu não sei dizer

Outra definição (explicação talvez seja a palavra mais exata), agora do poeta José Régio (“Fado Português”), liga o fado às viagens marítimas — e o poema também é cantado como fado por Amália:
O fado nasceu num dia
Em que o vento mal bulia
E o céu o mar prolongava,
Na amurada dum veleiro,
No peito dum marinheiro
Que estando triste, cantava.(...)

De qualquer modo, é certo que o fado se alastrou pelos bairros pobres de Lisboa — ele tem uma nítida identidade urbana —, isso aí pela primeira metade do século 19. Depois, ele foi aos poucos ganhando os salões mais requintados, como talvez fosse previsível que acontecesse — o tango, por exemplo, teve destino semelhante.
Com a chegada de Salazar ao poder, houve, de início, censura de letras: um decreto até proibiu os “cantos avinhados de vozes roucas e guitarras pífias”. Mas o fado acabou por se tornar um dos chamados três efes da ditadura: fado, futebol e Fátima (o santuário), o que o levou a uma espécie de ostracismo após a revolução de abril de 1974, a Revolução dos Cravos, por conta dessa identificação, para muitos injusta, do fado com o Estado Novo português (para outros, a identificação não era exagerada: Amália Rodrigues foi até vista chorando no enterro de Salazar). (Uma nota que nada tem a ver com o fado: Manuel, nosso motorista de táxi de vastos bigodes portugueses — os motoristas de táxi de Lisboa, confirmando a piada, se chamam mesmo Joaquim ou Manuel —, disse-nos que “Salazar foi bom para quem não foi preso”. Não percebi ironia nas suas palavras.)
Com o tempo, o caráter de esquerda da Revolução foi serenando, e o fado, a partir da década de 80, começou a sair da redoma que lhe fora imposta. Hoje, como toda música identificada com um país, a exemplo do tango e do samba, tem servido para tudo, desde valorizar a identidade nacional até alavancar o turismo. Também seguindo a mesma toada de outras músicas nacionais, tem havido a valorização de fados tradicionais ao mesmo tempo em que são feitas as mais curiosas experimentações, as quais permitiram que se começasse a falar num “novo fado”, com a cantora Mísia como uma espécie de ícone desse movimento não organizado (e atenção, leitor, o famoso grupo Madredeus não é fadista, e a também famosa Dulce Pontes não é estritamente uma cantora de fado, já que interpreta outros tipos de música).
Há algumas figuras sagradas no panteão dos fadistas. Maria Severa Onofriana, uma espécie de mito fundador, uma protofadista, foi uma prostituta que viveu em Lisboa há quase dois séculos: nasceu em 1820 e morreu em 1846, na Mouraria, com fama de grande cantora. Alfredo Marceneiro (1890-1982), cantor um tanto solene, foi um dos mais venerados entre os fadistas homens. E, claro, há a onipresente Amália Rodrigues, que nasceu em 1920 e estreou, com 19 anos (19!), na legendária casa Retiro da Severa, no Bairro Alto; Amália, falecida em 1999, é a “maior figura de sempre” do fado, como dizem os portugas.
Assim, o que se percebe é que o fado, com ou sem ditadura, novo ou velho, talvez seja o mais forte elemento de identidade nacional de Portugal. Algumas músicas mostram essa profunda ligação entre o fado e a gente portuguesa, como o singelo “Ó Gente da Minha Terra”, que, apesar de ser de autoria de Amália Rodrigues e Tiago Machado, prefiro na voz de Mariza:
(...)
Ó gente da minha terraAgora é que percebiEsta tristeza que tragoFoi de vós que recebi(...)
Feita a lição de casa, pergunto-me: onde é que se canta e toca o fado hoje? Em Lisboa, há casas de fado por toda a cidade, e não poderia ser diferente, pois foi onde ele, quaisquer que tenham sido as suas influências, se fixou de modo definitivo na primeira metade do século 19. Muitas ficam no Bairro Alto e na Mouraria (nome que nos faz ter vontade de lá ter nascido apenas para dizer “sou da Mouraria”), mas as mais conhecidas são as da Alfama, bairro que se alastra, ladeira abaixo, do Castelo de São Jorge até o Tejo, repleto de ruelas e escadarias que lembram a sua origem medieval.
Portanto, contra fados não há argumentos. À Alfama, então, já que o bairro “não tem outra canção”, como cantou Amália no fado chamado — surpresa! - “Alfama”:
(...)
Alfama não cheira a fadoCheira a povo, a solidãoCheira a silêncio magoadoSabe a tristeza com pãoAlfama não cheira a fadoMas não tem outra canção 
Não faltam casas de fado no bairro, mas ficamos em dúvida entre duas, diferentes nas suas propostas. O Clube de Fado é, por assim dizer, mais turístico, não tanto como o Viejo Almacén, em Buenos Aires, que tanto estilizou o tango que o transformou num espetáculo insosso, mas é, ainda assim, frequentado praticamente só por estrangeiros. Fica próximo à Sé — cuja vista é magnífica à noite —, na Rua de São João da Praça, um pouco antes da verdadeira Alfama. Já a Parreirinha de Alfama, no Beco do Espírito Santo, é uma casa mais rústica, com pé-direito baixo e entrada estreita. Também ela parece destinada aos turistas — e o que não é, nestes tempos globalizados? —, mas lá ainda aparecem muitos lisboetas (ia escrevendo “alfacinhas”, mas não sei se isso seria aceitável ou ofensivo). Optamos, então, pela Parreirinha. 
Caminhamos na noite fria, mas limpa e agradável, desde nosso hotel, na Baixa, até a Parreirinha. As ruelas são intrincadas; porém, cumprindo uma atávica atividade masculina, estudei antes o mapa e, com poucos erros e pedidos de informações, alcançamos nosso objetivo. Por sorte, conseguimos a última mesa vaga; ao lado, muito perto de nós, há um casal de portugueses de meia-idade. Na entrada, recebeu-nos uma senhora idosa, que depois descobrimos ser Argentina Santos, dona do pedaço, talvez a última cantora de fado tradicional, castiço (ou fado fado, como às vezes se diz). Ela nasceu em 1926 — portanto, já passou dos 80 anos — e abriu o restaurante em 1950. Ao seu lado, um senhor também idoso, elegante e discreto. A noite com certeza promete.
O local é um tanto apertado, com as mesas pegadas umas nas outras — onde moramos, isso é defeito; em viagens, é charmoso. Conseguimos chamar a atenção da garçonete, que corre atarefada entre as mesas, e então pedimos nossos pratos e o vinho e aguardamos o espetáculo. A comida — jantamos bacalhau, claro — é saborosa sem ser marcante. Lá pelas tantas (meço o tempo pelo vinho: na segunda garrafa), num espaço que se abre entre as mesas, no meio do restaurante, os músicos se juntam e iniciam o espetáculo; a cada três ou quatro músicas há uma interrupção para que os clientes façam seus pedidos, e nessa hora os músicos são trocados.
Nada de especial acontece durante as primeiras músicas. Mas em algum momento um forte sentimento, surgido talvez da acumulação de vinho bebido e fados já cantados, toma conta rapidamente do restaurante, e os portugueses vão juntando suas vozes, comovidos, às vozes dos músicos, enquanto os estrangeiros tentam repetir os refrões que não entendem — uns ingleses numa mesa próxima são especialmente cômicos nessa tentativa, repetindo desajeitamente as palavras: as que terminam em “ão” saem como tijolos de suas bocas.
A emoção é grande quando todos cantam os versos “Coimbra tem mais encanto/Na hora da despedida”, da famosa “Balada da Despedida”, e atinge o seu auge, logo depois, com Argentina, agora vestindo o obrigatório xale preto, cantando “Volta Atrás, Vida Vivida”, acompanhada ao violão — ou guitarra portuguesa, não sei bem — pelo senhor que estava ao seu lado quando chegamos (curiosos, nos perguntamos se ele seria seu marido). A letra arranca pedaços de nós:
Volta atrás, vida vivida
Para eu tornar a viver
Aquela vida perdida
Que nunca soube viver
Voltar de novo, quem dera
A tal tempo, que saudade
Volta sempre a primavera
Só não volta a mocidade
A vida começa cedo
Mas assim que ela começa
Começamos por ter medo
Que ela se acabe depressa
O tempo vai-se passando
E agente vai-se iludindo
Ora rindo ora chorando
Ora chorando ora rindo
Meu Deus, como o tempo passa
Dizemos de quando em quando
Afinal o tempo fica
A gente é que vai passando 

Argentina Santos  
A velha Argentina Santos impõe-se, todos nós estamos com a atenção centrada nela, que não se abala e é toda seriedade: a mulher não esboça nenhum sorriso. Depois de cantar o refrão muitas vezes — e cada repetição é um lâmina espetada em nós —, ela encerra e deixa a clareira entre as mesas, carregando consigo nossas dores e saudades. Caminha no exíguo espaço entre as mesas com o queixo apontando para o alto; o brio de quem sabe que merece toda a atenção até nos faz esquecer o cenário pouco digno, com garçons correndo, barulho de copos e cadeiras arrastadas. Fascinado, eu a sigo com os olhos; seu porte me faz lembrar as mulheres duras e longevas da minha família - imagino que ela seja uma dessas rochas que esteiam todo um clã. R. e eu, machucados na alma, aplaudimos e tomamos largos goles do vinho, talvez tentando cauterizar as feridas.
Após mais um intervalo, há ainda Luís Tomar, competente e compenetrado no seu terno escuro, bem mais novo do que a anfitriã — devia estar na primeira dentição quando Argentina já fazia sucesso na Parreirinha. Ele parece ser o preferido de muitos, principalmente de alguns portugueses que, acredito, sejam clientes cativos da casa (mas não é o meu: Argentina tem o meu voto). Escrevendo agora, lembrei-me de uma descrição de uma sessão de fado que emocionou a norte-americana Frances Mayes, autora de best sellers sobre sua mudança dos EUA para a Toscana (“Sob o Sol da Toscana” e “Bela Toscana”); tenho certeza, sem ter ainda relido o texto, que ela se refere a Tomar e à Parreirinha. Procuro o livro, “Um Ano de Viagens”, e vejo que acertei na mosca (ela não cita expressamente a casa nem Argentina Santos, mas a descrição do local e o fato de Luís Tomar ser mencionado comprovam que foi na Parreirinha que ela teve “sua espinha dorsal transformada num fio elétrico”, como escreveu):
“O próximo cantor nos derruba de nossas cadeiras. É tão inverossímil! A fadista se encaixa no seu papel, mas Luís Tomar, rígido no seu terno, poderia estar vendendo apólices de seguros. Só para provar que não se deve julgar ninguém pela aparência, a sua voz, tão carregada de emoção contida, cinde os átomos da sala. A paixão ameaça subjugar a canção a qualquer momento, mas permanece contida, num timbre que corresponde exatamente às sinapses dos seus próprios sonhos e anseios íntimos. Gostaria que ele não parasse mais de cantar.”
Tomar, mesmo contido, parte para uns fados mais alegres, como “Oiça Lá, Ó Senhor Vinho”, seguido mais uma vez por todos; os ingleses sofrem de novo com as palavras, cantadas muito rapidamente e com a costumeira omissão de vogais:
Oiça lá, ó senhor vinho
Vai responder-me, mas com franquezaPor que é que tira toda a firmezaA quem encontra no seu caminho(...)Vossa Mercê tem razãoE é ingratidãoFalar mal do vinhoE a provar o que digoVamos, meu amigoA mais um copinho
Argentina Santos é às vezes difícil de entender (o verso “Para eu tornar a viver” vira algo como “Pa ieu turnar a v’ver”), já Tomar tem menos acento português. Mas também ele, depois de deixar todos ofegantes com seus fados rápidos, encerra sua parte. E eu lamento que ninguém cante “Estranha Forma de Vida”, talvez o fado mais famoso interpretado por Amália; eu o conheço desde menino (não poderia dar certo: os garotos da minha idade brincando de pique e eu ouvindo fado). Queria ouvi-lo por isso, por sabê-lo de cor há muito tempo, mas também porque sua letra combina com os turbulentos dias que tenho vivido (melhor dizendo: que estava vivendo no Brasil):
Foi por vontade de Deus
Que eu vivo nesta ansiedadeQue todos os ais são meusQue é toda a minha a saudadeFoi por vontade de Deus
Que estranha forma de vida
Tem este meu coraçãoVive de forma perdidaQuem lhe daria o condãoQue estranha forma de vida
Coração independente
Coração que não comandoVive perdido entre a genteTeimosamente sangrandoCoração independente
Eu não te acompanho mais
Pára, deixa de baterSe não sabes onde vaisPor que teimas em correrEu não te acompanho mais
Ninguém cantou, paciência, pois o espetáculo termina; pagamos então nossa conta e deixamos a Parreirinha. A noite esfriou muito, a temperatura com certeza está abaixo dos dez graus. Embrulhados nos nossos capotes, R. e eu saímos para enfrentar o frio. As ruas encheram-se, há muita gente nos bares, talvez tomando a última ginjinha (“com ou sem?”, perguntam sempre os portugueses para que os clientes digam se querem ou não a bebida com as ginjas, frutinhas parecidas com cereja e com as quais o licor é feito). A emoção da música que ouvimos ainda está conosco, o frio aumenta mais ainda, a alegria das pessoas nos bares contrasta com a tristeza das letras dos fados. Olho R., especialmente bonita e elegante na sua roupa de inverno, noto que ela está feliz pelo fato de estar em outro país (ela é uma dessas mulheres em que a alegria transforma-se em mais beleza física) e penso que vivemos uma dessas ocasiões que marcam qualquer viagem, um dos momentos que ficarão gravados fortemente na memória e que serão repetidos à exaustão aos amigos. No retorno a casa, a soma de cinco ou seis desses momentos torna-se a própria viagem.
Vamos seguindo, sem trocar muitas palavras, para o hotel. E pensando no que vi e no que ainda verei (espero que sempre na companhia de R.), lamentando “Que estranha forma de vida/Tem este meu coração” e lembrando que “Afinal o tempo fica/A gente é que vai passando”, constato mais uma vez que somente estas novas experiências — viagens, literatura, música, gastronomia — podem me suspender um pouco acima da mediocridade em que vivo, sempre envolvido por obrigações e horários a cumprir e sufocado pelas agressões da vida moderna. Como Fernando Pessoa (Álvaro de Campos), que era português dos pés à cabeça, eu “tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas”; como ele, eu sou também “vadio e pedinte”, e sei que “Sim, ser vadio e pedinte, como eu sou,/Não é ser vadio e pedinte, o que é corrente:/É ser isolado na alma, e isso é que é ser vadio,/É ter que pedir aos dias que passem, e nos deixem, e isso é que é ser pedinte”. Mas Lisboa e sua música alçaram-me, ainda que por breves momentos, acima disso tudo. E o fado encheu-nos, a mim e a R., da obsessiva saudade portuguesa, essa saudade que já se definiu como uma melancolia feliz e que é “um mal, de que se gosta, e um bem, que se padece” (D. Francisco Manuel de Mello) — mas, ai de nós, ninguém mais sente saudades como nos tempos de Amália. Saudoso - melancólico e feliz ao mesmo tempo —, livre das minhas agruras habituais, leio de novo, no hotel, Pessoa-Álvaro de Campos, e agora é mais forte a ideia de que eu mereço, de que R. merece mais noites assim e menos obrigações maçantes: “Tão pouca heráldica a vida!/Tão sem tronos e ouropéis quotidianos!/Tão de si própria oca, tão de sentir-se despida/Afogai-me, ó ruído da acção, no som dos vossos oceanos!”.
É tarde. Com a música de certa forma ainda presente, olho R., já adormecida, e peço que o fado — sinônimo de “destino” — nos seja leve e que não tenhamos nunca de pedir: “Volta atrás, vida vivida”.

Para que serve a cabecinha?

Complicada a lingua portuguesa


Amar é....
O marido, ao chegar a casa, no final da noite, diz à mulher que já estava deitada:- Querida, eu quero amá-la.
A mulher, que estava a dormir, com a voz embolada, responde:
- A mala... ah não sei onde está! Usa a mochila que está no roupeiro do
quarto de visitas.- Não é isso querida, hoje vou amar-te.
- Por mim, podes ir até Júpiter, até Saturno e até ao raio que te parta,
desde que me deixes dormir em paz...

Uma belíssima aula de português


 Foi elaborada para acabar de uma vez por todas com toda e qualquer dúvida se temos presidente ou presidenta. A presidenta foi estudanta? Existe a palavra: PRESIDENTA? Que tal colocarmos um "BASTA" no assunto? (Miriam Rita Moro Mine - Universidade Federal do Paraná)No português existem os particípios ativos como derivativos verbais. Por exemplo: o particípio ativo do verbo atacar é atacante, de pedir é pedinte, o de cantar é cantante, o de existir é existente, o de mendicar é mendicante... Qual é o particípio ativo do verbo ser? O particípio ativo do verbo ser é ente. Aquele que é: o ente. Aquele que tem entidade. Assim, quando queremos designar alguém com capacidade para exercer a ação que expressa um verbo, há que se adicionar à raiz verbal os sufixos ante, ente ou inte. Portanto, à pessoa que preside é PRESIDENTE, e não "presidenta", independentemente do sexo que tenha. Se diz capela ardente, e não capela "ardenta"; se diz estudante, e não "estudanta"; se diz adolescente, e não "adolescenta"; se diz paciente, e não "pacienta". Um bom exemplo do erro grosseiro seria: "A candidata a presidenta se comporta como uma adolescenta pouco pacienta que imagina ter virado eleganta para tentar ser nomeada representanta. Esperamos vê-la algum dia sorridenta numa capela ardenta, pois esta dirigenta política, dentre tantas outras suas atitudes barbarizentas, não tem o direito de violentar o pobre português, só para ficar contenta". 
Por favor, pelo amor à Língua Portuguesa,  "PRESIDENTA" NÃOOOOOOO!!!

sábado, 9 de julho de 2011

Alentejo - Pôr-do-sol

E já o Eça o dizia...


Eça QueirósEça de QueirósPortugal1845 // 1900Escritor
Nós Estamos num Estado Comparável à GréciaNós estamos num estado comparável, correlativo à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesmo abaixamento dos caracteres, mesma ladroagem pública, mesma agiotagem, mesma decadência de espírito, mesma administração grotesca de desleixo e de confusão. Nos livros estrangeiros, nas revistas, quando se quer falar de um país católico e que pela sua decadência progressiva poderá vir a ser riscado do mapa – citam-se ao par a Grécia e Portugal. Somente nós não temos como a Grécia uma história gloriosa, a honra de ter criado uma religião, uma literatura de modelo universal e o museu humano da beleza da arte. 

Eça de Queirós, in 'Farpas (1872)' 

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Os benefícios do beijo para o bem-estar

Símbolo de afeto e aceitação, o beijo é levado a sério pela ciência. Descubra o que ele representa para o corpo e como eleva o bem-estar

Publicado em 06/07/2011
Pedro Belo


O beijo interfere no cérebro e proporciona bem-estar
Foto: Getty Images
Um só minuto de beijo e, no entanto, quantos segundos de espanto! A frase é de Vinicius de Moraes, mas a sensação descrita é compartilhada pela maioria das pessoas. Será possível explicar racionalmente o que um gesto tão instintivo provoca dentro do organismo? Vale a pena ouvir o que os especialistas têm a dizer.


"O beijo é um ato que faz o indivíduo se lembrar inconscientemente da amamentação, um período de entrega total. Por isso, traz conforto e confiança", avalia o ginecologista e sexólogo carioca Amaury Mendes Júnior. Para a psiquiatra Carmita Abdo, da Universidade de São Paulo, ele faz parte de uma espécie de iniciação no mundo. "A boca é o principal órgão da comunicação e aprendemos desde cedo a demonstrar afeto por meio do beijo", diz.Nos últimos anos, a ciência se debruçou sobre o legítimo boca a boca e busca enxergá-lo inclusive como um mecanismo de perpetuação da linhagem. O homem prefere beijos molhados, por exemplo, porque tentaria lançar mais testosterona, o hormônio do apetite sexual, no corpo da mulher, despertando seu desejo. Corre uma hipótese de que o macho poderia até mesmo inferir a quantidade de estrogênio na saliva da fêmea, indício de fertilidade e boa prole.Também se investiga como o beijo interfere no cérebro e proporciona bem-estar. Um estudo da neurocientista Wendy Hill, do Lafayette College, nos Estados Unidos, constata que o encontro bucal aumenta a produção de ocitocina, o mesmo hormônio que instiga vínculos entre o bebê e a mãe. "O beijo aplaca o estresse e faz liberar endorfinas, substâncias por trás da sensação de tranquilidade", diz Carmita.Para Mendes Júnior, as carícias entre os lábios são ainda um indicativo de uma vida sexual saudável. "Quando um casal não se beija, a relação já não tem o mesmo afeto", afirma. Por outro lado, parceiros que investem em beijos mais calientes têm maiores chances de garantir ou resgatar a qualidade do bem-bom. "Esse ato é marcado por uma sensação erótica, já que as mucosas da boca são muito enervadas e vascularizadas, só perdendo para os genitais", explica. Dá para entender, portanto, por que a troca de saliva estreita os laços e aumenta a autoestima entre o casal. E você há de convir que não existe melhor presente para quem quer ser eternamente namorado.

26 calorias é quanto se gasta, em média, em um beijo de língua de um minuto
Foto: Getty Images

Vínculo ou veículo?

O beijo também tem seu lado perigoso. Segundo o infectologista Paulo Olzon Monteiro, da Universidade Federal de São Paulo, males que atingem as vias respiratórias, como a gripe, o sarampo e a rubéola, podem ser disseminados com esse contato próximo demais. "Há também vírus, como o da mononucleose, chamada de doença do beijo, e outras do mesmo grupo viral, como o herpes, que são transmitidas pela saliva", afirma.

Curiosidades...

· 26 calorias é quanto se gasta, em média, em um beijo de língua de um minuto.


· Até 150 batidas por minuto é quanto acelera o coração durante um beijo.· 800 é o número aproximado de tipos de bactéria que habitam a boca humana.· 29 músculos na boca e no pescoço permanecem em movimento ao longo de um beijo.

domingo, 3 de julho de 2011

Gregos protestam recusando-se a pagar serviços

                      movimento "Não Pagamos".

Jim Morrison recordado 40 anos após a sua morte

Fãs vestiram t-shirts de homenagem a Jim Morisson (foto AP)

Morreu há 40 anos o vocalista dos The Doors que continua a trazer para as ruas um grande número de fãs, que este domingo se juntaram no cemitério parisiense Père-Lachaise, onde Jim Morrison está sepultado.
O cantor, que morreu com 27 anos, foi recordado em t-shirts, cartazes, mensagens e fotografias. Houve até quem deixasse flores. Também o teclista dos Doors Ray Manzarek e o quitarrista Robby Krieger estiveram presentes.
James Douglas Morrison, mais conhecido por Jim Morrison, nasceu no estado norte-americano da Florida a 8 de Dezembro e foi encontrado sem vida na banheira do seu apartamento arrendado em Paris, a 3 de Julho de 1971. Não tendo sido encontrados vestígios de acção criminosa, não foi realizada nenhuma autópsia, tal como prevê a lei francesa, tendo a morte do cantor ficado envolta num grande mistério que perdura.

Alentejo - Memória e Paisagem

quarta-feira, 29 de junho de 2011

O turco, o judeu e o preto

  Um turco pediu dinheiro emprestado a um judeu. Acontece que o turco gabava-se de nunca ter pago uma dívida sequer. Por outro lado, o judeu nunca havia perdido nenhum centavo em negócio nenhum. Passa o tempo e o turco enrolando e fugindo do judeu e este na captura do turco. Até que um dia eles cruzaram-se no bar de um africano e começaram uma discussão. O turco encurralado não encontrou outra saída, pegou num revólver encostou à própria cabeça e disse:- Eu posso ir para o inferno, mas não pago esta dívida!... E puxou o gatilho, caindo morto no chão.O Judeu não quis deixar por menos, pegou o revólver do chão, encostou na sua própria cabeça e disse:- Eu vou receber esta dívida, nem que seja no inferno!... E puxou o gatilho, caindo morto no chão.O preto, que observava tudo, pegou o revólver do chão, encostou-o àsua cabeça e disse:Ah ah ah !...., isto vai dar bronca!... Tenho de ir ver!...