domingo, 27 de setembro de 2009

António Lobo Antunes vs tabelião caduco?






A um tabelião velho, que casou com moça nova


Um tabelião caduco
Com mulher moça casado,
Vai portar no seu estado
Por fé o sinal de cuco:
Como já não deita suco
Por mais que puxe os atilhos,
Não lhe hão-de faltar casquilhos
Para a moça amantes novos,
Que lhe vão galando os ovos,
Ele cá criando os filhos.



Ele diz que assim o quer;
Mas de raiva dará pulos,
Vendo que são actos nulos
Os actos que ele fizer:
Sem ter direito à mulher
Que será deste demónio?
Logo então qualquer belónio
Lhe desmancha o casamento,
Porque não tem instrumento
Com que prove o matrimónio.



Tenha embora muita renda,
Seja lavrador morgado,
Mas para homem casado,
Sempre tem pouca fazenda.
É provável se arrependa
A pobre da rapariga,
Que se agatanhe e maldiga,
Quanto na noite da boda
Correr a seara toda,
E não encontrar a espiga.



Manuel Maria Barbosa du Bocage

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Batalha de Ourique - 1139


(clique na imagem para ampliar)

Fotos e montagem JC Ramalho - Direitos de Autor Reservados / SPA


Batalha de Ourique


Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.



A Batalha de Ourique desenrolou-se muito provavelmente nos campos de Ourique, no actual Baixo Alentejo (sul de Portugal) em 1139 - significativamente, de acordo com a tradição, no dia de Santiago, que a lenda popular tinha tornado patrono da luta contra os mouros; um dos nomes populares do santo, era precisamente Matamouros.


Foi travada numa das incursões que os cristãos faziam em terra de mouros para apreenderem gado, escravos e outros despojos. Nela se defrontaram as tropas cristãs, comandadas por D. Afonso Henriques, e as muçulmanas, em número bastante maior.


Inesperadamente, um exército mouro saiu-lhes ao encontro e, apesar da inferioridade numérica, os cristãos venceram. A vitória cristã foi tamanha que D. Afonso Henriques resolveu autoproclamar-se Rei de Portugal (ou foi aclamado pelas suas tropas ainda no campo de batalha), tendo a sua chancelaria começado a usar a intitulação Rex Portugallensis (Rei dos Portucalenses ou Rei dos Portugueses) a partir 1140 - tornando rei de facto, embora a confirmação do título de jure pela Santa Sé date apenas de Maio de 1179.


A ideia de milagre ligado a esta batalha surge pela primeira vez no século XIV, muito depois da batalha. Ourique serve, a partir daí, de argumento político para justificar a independência do Reino de Portugal: a intervenção pessoal de Deus era a prova da existência de um Portugal independente por vontade divina e, portanto, eterna.


A lenda narra que, naquele dia, consagrado a Santiago, o soberano português teve uma visão de Jesus Cristo e dos anjos, garantindo-lhe a vitória em combate. Contudo, esse pormenor foi interposto mais tarde na narrativa, sendo praticamente decalcado da narrativa da Batalha da Ponte Mílvio, opondo Maxêncio a Constantino o Grande, segundo a qual Deus teria aparecido a este último dizendo IN HOC SIGNO VINCES (latim, «Com este sinal vencerás!»).


Este evento histórico marcou de tal forma o imaginário português, que se encontra retratado no brasão de armas da nação: cinco escudetes (cada qual com cinco besantes), representando os cinco reis mouros vencidos na batalha.

Posted by Picasa

domingo, 20 de setembro de 2009

Planeta Terra

A "desbocada" Manela a levar nas orelhas

A conspiração


19 Setembro 2009 - 09h00

                                                Coisas do circo

A conspiração



O Presidente está "acusado" de promover uma conspiração contra outro órgão de soberania.
Independentemente dos contornos jornalísticos, apreciados nas suas vertentes ética e deontológica, que ficam para outra ocasião, é um facto que a "inventona" das escutas a Belém foi gerada, na Presidência da República, por Fernando Lima, um homem-forte do Presidente e utilizou o jornal ‘Público’, dirigido por José Manuel Fernandes, que agora abandona o barco, ao que se diz, para se juntar ao staff do Presidente da República.
A podridão no estado mais puro, a exigir processos-crime, carteiras profissionais ‘cassadas’ e demissões várias. Se se confirmar (é necessária a reconfirmação de tudo) tudo o que ficou agora jornalisticamente provado e se, em tempo útil, o Presidente da República não se pronunciar sobre o assunto, mostrando-se à altura do cargo e das responsabilidades que os portugueses lhe confiaram, não há outra saída que não seja a resignação. O Presidente da República está "acusado" de promover uma conspiração contra outro órgão de soberania, enquanto prega a cooperação institucional entre Belém e S. Bento. Ou prova, ou se demarca, sem equívocos, ou resigna, porque feriu de morte a confiança dos portugueses e já não pode continuar a ser o garante do regular funcionamento das instituições democráticas.
Quem adopta estas práticas perde todas as hipóteses de continuar a exercer uma magistratura de influência na sociedade e não será mais aceite como Presidente de todos os portugueses. O assunto é muito grave. Não deve ser dramatizado mas, por outro lado, não pode ser minimizado. Embora estranho, não deixa de ser preocupante que se vislumbre um nexo causal entre este episódio e outros que se desenvolveram contra José Sócrates, de forma sistemática e apurada. O caso Freeport, que na sua génese envolveu gente do PSD, o caso da TVI e da vergonhosa manipulação do ‘Jornal’ de sexta-feira, os ataques à honra da sua família mais próxima, e agora a encomenda de Fernando Lima ao jornal ‘Público’.



Os dados mostram que o PSD desencadeou uma campanha ‘ad hominem’ e acreditou que era essa a substância para virar Sócrates do avesso e derrotá-lo nestas eleições. Estamos a nove dias do acto eleitoral e Manuela Ferreira Leite não apresentou uma única proposta válida para resolver os problemas do País. As sondagens que ontem foram conhecidas, da Católica e da Aximage, mostram que o povo português não se deixou encantar pelas conspirações e pune de forma drástica o PSD. O PS continua a subir e o PSD está em plano inclinado, a perder votos, obrigando Ferreira Leite a uma mudança de rumo de última hora.



Emídio Rangel, Jornalista... in Correio da Manhã






sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Disparidade de salários nas empresas

Processo Casa Pia


Juiz Rui Teixeira tem carreira estagnada devido ao processo Casa Pia

A carreira do juiz Rui Teixeira estará a ser prejudicada por ter sido o juiz de instrução do processo Casa Pia. Todos os magistrados judiciais são avaliados de 4 em 4 anos. Mas a última avaliação de Rui Teixeira foi feita em 2001. Desde então o magistrado voltou a ser inspeccionado com classificação de muito bom mas três conselheiros do Conselho Superior da Magistratura, nomeados pelo Partido Socialista, não concordam com a nota que lhe foi atribuída.    - SIC -

*****
A 21 de Maio de 2003 Rui Teixeira estava longe de imaginar as consequências que o processo Casa Pia haveria de ter na sua carreira.

Numa situação inédita, Rui Teixeira deslocou-se à Assembleia da República para pedir o levantamento da imunidade parlamentar do deputado socialista Paulo Pedroso.

Após quatro meses e meio em prisão preventiva, Paulo Pedroso foi libertado por ordem do Tribunal da Relação.

Um mês antes, o Conselho Superior da Magistratura decidiu manter Rui Teixeira à frente do inquérito Casa Pia, acumulando funções no Tribunal de Círculo de Mafra.

O mesmo órgão que há seis anos o manteve no processo, congelou agora a avaliação do juiz.

De quatro em quatro anos os juízes são inspeccionados. A nota que pode ir de “Medíocre” a “Muito Bom” é depois homologada pelos membros reunidos em conselho permanente. Só assim os magistrados podem aceder a outros tribunais.

A última nota de Rui Teixeira é de 2001: um “Bom com distinção”.

A nova inspecção só acabou agora – e, já apanhou os anos do dossiê Casa Pia. Abrangeu quase metade dos 17 anos de carreira do juiz.

Rui Teixeira obteve a classificação de “Muito Bom” mas quando a nota chegou à reunião do Conselho Superior da Magistratura, três vogais indicados pelo Partido Socialista, não aceitaram a classificação. Para eles há um processo mais importante do que todos.

Carlos Ferreira de Almeida, Rui Patrício e Alexandra Leitão, a vogal que é também consultora na Presidência do Conselho de Ministros, alegaram que o processo Casa Pia teve grande impacto na opinião pública, que as pessoas envolvidas deram muita notoriedade ao caso – e, que, por isso, Rui Teixeira merecia um tratamento especial.

Os três membros argumentaram que foi um erro do juiz que levou à libertação de um arguido. Paulo Pedroso, é a ele que se referiam.

Que houve um arguido nunca pronunciado. Foi também o caso de Paulo Pedroso.

E que um arguido foi indemnizado por ter sido ilegal a sua detenção. Quem mais se não Paulo Pedroso?

O conselho, presidido por Noronha do Nascimento, entendeu que a avaliação do juiz deveria ser decidida pelo plenário e não pelo conselho permanente, que é o órgão competente para votar as notas dos juízes.

O assunto chegou mesmo a plenário, onde ficou decidido que a avaliação de Rui Teixeira terá de esperar pelo resultado do processo em que o Estado foi condenado a pagar uma indemnização a Paulo Pedroso. Resultado que pode levar anos a ser conhecido.

Agora está no Tribunal da Relação mas é provável que suba ao Supremo e até ao Constitucional.

Rui Teixeira recorreu da decisão do conselho para o Supremo Tribunal de Justiça.

Por enquanto, o juiz continua a “marcar passo” no círculo de Torres Vedras.


18 de Setembro - Efemérides

Gato Fedorento esmiúça Louçã

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Bocage e a Restauração de 1640

Cesarões, Viriatos, Apimanos,
Vós que, brandindo vingadora espada,
Tentastes sacudir da Pátria amada
O vil, o férreo jugo dos Romanos.




Surgi, vede-a no sangue de tiranos
Inda piores outra vez banhada,
E a nossa liberdade edificada
No estrago dos intrusos Castelhanos.




Aos senhores do mundo armipotentes
Arrancastes, em bélica porfia,
Parte do loiro que lhe honrava as frentes;



Porém com milagrosa valentia
Os vossos memoráveis descendentes
Fizeram mais livraram-se num dia!



Bocage

Fernando Pessoa vs Álvaro de Campos

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas).
Álvaro de Campos

Beatles - For no one

Albert Einstein


Pode ser que um dia deixemos de nos falar...
Mas, enquanto houver amizade,
Faremos as pazes de novo.
Pode ser que um dia o tempo passe...
Mas, se a amizade permanecer,
Um de outro se há-de lembrar.
Pode ser que um dia nos afastemos...
Mas, se formos amigos de verdade,
A amizade nos reaproximará.
Pode ser que um dia não mais existamos...
Mas, se ainda sobrar amizade,
Nasceremos de novo, um para o outro.
Pode ser que um dia tudo acabe...
Mas, com a amizade construiremos tudo novamente,
Cada vez de forma diferente.
Sendo único e inesquecível cada momento
Que juntos viveremos e nos lembraremos para sempre.
Há duas formas para viver a sua vida:
Uma é acreditar que não existe milagre.
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre.
Albert Einstein

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Mentes Famosas

Mentes Famosas

Gasolineiras - lucros chorudos

Os novos logótipos das gasolineiras

Freud o pai da Psicanálise

Sigmund Freud (Příbor, 6 de maio de 1856 — Londres, 23 de setembro de 1939) foi um médico neurologista judeu-austríaco, fundador da psicanálise. Nasceu em Freiberg, Morávia (hoje Příbor), quando esta pertencia ao Império Austríaco.
Interessou-se inicialmente pela histeria e, tendo como método a hipnose, estudou pessoas que apresentavam esse quadro. Mais tarde, com interesses pelo inconsciente e pulsões, entre outros, foi influenciado por Charcot e Leibniz, abandonando a hipnose em favor da associação livre e da interpretacao dos sonhos. Estes elementos tornaram-se as bases da psicanálise. Freud, além de ter sido um grande cientista e escritor (Prémio Goethe, 1930), possui o título, assim como Darwin e Copérnico, de ter realizado uma revolução no âmbito humano: a idéia de que somos movidos pelo inconsciente.
Freud, suas teorias e seu tratamento com seus pacientes foram controversos na Viena do século XIX, e continuam a ser muito debatidos hoje. Suas idéias são freqüentemente discutidas e analisadas como obras de literatura e cultura geral em adição ao contínuo debate ao redor delas no uso como tratamento científico e médico.
Biografia
Nascido Sigismund Schlomo Freud (mas em 1877 abreviou seu nome para Sigmund Freud), aos quatro anos de idade sua família transferiu-se para Viena por problemas financeiros. Morou em Viena até 1938, quando, com a vinda do nazismo (Freud era judeu), foge para a Inglaterra. Era um excelente aluno, porém, por ser judeu, só poderia escolher entre os cursos de Direito ou Medicina, optando por este último.
Sigmund Freud é filho de Jacob Freud e de sua terceira mulher Amalie Nathanson (1835-1930). Jacob, um judeu proveniente da Galiza e comerciante de lã, muda-se a Viena em 1860.[1]
Os primeiros anos de Freud são pouco conhecidos, já que ele destruíra seus escritos pessoais em duas ocasiões: a primeira em 1885 e novamente em 1907. Além disso, seus escritos posteriores foram protegidos cuidadosamente nos Arquivos de Sigmund Freud, aos quais só tinham acesso Ernest Jones (seu biógrafo oficial) e uns poucos membros do círculo da psicanálise. O trabalho de Jeffrey Moussaieff Masson pôs alguma luz sobre a natureza do material oculto.[2]
Em 14 de Setembro de 1886 em Hamburgo, Freud casou-se com Martha Bernays.[3]
Freud e Martha tiveram seis filhos: Mathilde, nascida em 1887, Jean-Martin, nascido em 1889, Olivier, nascido em1891, Ernst, nascido em 1892, Sophie, nascida em 1893 e Anna, nascida em 1895. Um deles, Martin Freud, escreveu uma memória intitulada Freud: Homem e Pai, na qual descreve o pai como um homem reservado, porém, amável, que trabalhava extremamente, por longas horas, mas que adorava ficar com suas crianças durante as férias de verão.
Anna Freud, filha de Freud, foi também uma psicanalista destacada, particularmente no campo do tratamento de crianças e do desenvolvimento psicológico. Sigmund Freud foi avô do pintor Lucian Freud e do ator e escritor Clement Freud, e bisavô da jornalista Emma Freud, da desenhista de moda Bella Freud e do relacionador público Matthew Freud.
Por sua vida inteira Freud teve problemas financeiros. Josef Breuer foi um aliado de Freud em suas idéias e também um aliado financeiro.
Nos tempos do nazismo, Freud perdeu quatro irmãs (Rosa, Dolfi, Paula, e Marie Freud). Embora Marie Bonaparte tenha tentado retirá-las do país, elas foram impedidas de sair de Viena pelas autoridades nazistas[4] e morreram nos campos de concentração de Auschwitz e de Theresienstadt.
In Wikipédia - A enciclopédia livre

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Zé Povinho sempre a pagar


Tantos impostos para pagar?
Ai pobre do Zé Povinho...
Sempre tudo a aumentar?
Fica teso...coitadinho!...

Óh Zé não vás votar,
Olha que esta canalha,
Está-se toda a marimbar
Para o povo que trabalha...

Depois do voto caçado,
Ninguém se lembra de ti
Nem o salário aumentado,
E o politico ainda se ri.

E tu sempre a vergar,
E a dares ao cabedal
Só serves para amochar
Assim ficas sempre mal.

Vai-te mas é divertir,
Segue  o conselho que te dou
Manda-os mas é grunhir,
É para isso que aqui estou.


José C. Ramalho - Direitos de Autor Reservados / SPA

O caso Manuela Moura Guedes

Fausto - Navegar,navegar

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Évora nas Invasões Francesas






Guarda, Alpedrinha, Leiria, Nazaré, Vila Viçosa, Beja, “não oferecem, todas juntas, um espectáculo comparável” à “mortandade horrorosa” cometida por Loison em Évora a partir das quatro da tarde daquele dia 29 de Julho, informa Acúrsio das Neves. Junot entregou-lhe uma divisão de 6 mil infantes e cinco esquadrões de Cavalaria, que embarcaram para Cacilhas na manhã de 26 de Julho, chegando à vista de Évora na “fatal” data que a cidade – a terceira do reino, ao tempo – há-de chorar. As forças que a defendem dispõem de poderosos meios de artilharia mas não totalizam mais de 2 mil homens: 700 tropas portuguesas “com alguma instrução”; cerca de 400 da chamada legião estrangeira de Badajoz, muitos dos quais também portugueses; 600 homens de vários corpos espanhóis; e “gente colectícia – padres, frades, paisanos de várias condições sociais armados de chuços, foices roçadoras, machados e outras que tais armas”.O Corpo que Loison comanda directamente dirige-se “em luta aberta” contra os atiradores milicianos que guarnecem a capela de Nossa Senhora da Ajuda, edificada sobre as duas torres da Porta de Alconchel. Sessenta minutos de “terrível fuzilaria” demorou a defesa desta posição, auxiliada pelo tiroteio “dos bravos e enraivecidos eborenses”, entre os quais se salientavam os monges do Convento dos Remédios.Estoirada a Porta de Alconchel, a cidade torna-se “pasto da soldadesca ínfreme e sequiosa de sangue”, quando, pelas quatro da tarde, “tocou à degola e começou a mortandade da população”. O bispo corre à Catedral, ameaçada de destruição por dois canhões assestados sobre a fachada. Frei Manuel do Cenáculo prepara-se, no seu sólio, rodeado pelo cabido, para receber o comandante das forças, que disparam indistintamente sobre os altares e populares desarmados. Loison manda um intérprete dizer-lhe que o espera no Paço, ali mesmo pegado.- Monsenhor arcebispo, assinou um decreto contra a França, é réu de morte, grita-lhe o general, “com gesto feroz e ameaçador”. Ordena, em seguida, que se arvore a bandeira francesa na mais alta das três torres da Sé e determina o aboletamento seu e de mais 40 oficiais superiores nos aposentos do palácio.Os novos senhores da cidade obrigam criados, clérigos, frades “e também alguns senhores” que ali se refugiaram “a que os servissem de pronto, e isto com pontapés, bofetões e ameaços de espadas e pistolas”. Após o que dirigiram “um saque tão sistemático da casa, que nada escapou de valia”, incluindo o anel, arrancado do dedo episcopal. Não se entendem, como de costume, os autores, sobre o número de baixas. Fontes do estado-maior invasor calculam que o custo da operação militar – excluindo, portanto, a “carnagem” que se lhe seguiu – chegou a cinco mil mortos e dois mil feridos e prisioneiros, do lado português. Vasco Pulido Valente diz que as execuções com que se celebrou a vitória aumentaram a conta para oito mil mortos “e não se sabe quantos feridos”. Túlio Espanca dá o maior crédito às cifras avançadas por um padre, testemunha ocular: mais de 1 500 mortos. Estimativas mais modestas põem em 800 os que morreram nas linhas de combate e em 38 padres e freiras e 232 “seculares” os que foram chacinados na “deplorável catástrofe do fatal tríduo de 29, 30 e 31 de Julho de 1808”, como chora o secretário do Santo Ofício, Padre José Joaquim da Silva, na sua memória histórica Évora Lastimosa. Uma das duas lápidas de mármore, “embebidas” nas paredes laterais dos paços do concelho de Évora, 79 anos depois do massacre de Loison, como evocação da resistência da cidade e do seu arcebispo, jaz, hoje, nos arredores, num parque municipal, entre ferro velho e um menir abandonado.As inscrições, em latim uma, em português a outra, engrandecem a figura do herói do “tríduo”, frei Manuel do Cenáculo Villas Boas, que “pedindo e suplicando a paz, obteve o dom da piedade e manteve a cidade livre da ruína” de maior fúria do invasor.Na própria Sé, a placa comemorativa passou, há 70 anos, de uma das nove capelas para a parede do lado direito de quem entra, junto das escadas que conduzem às torres do templo. O sólio – donde o arcebispo desceu, à vista dos oficiais vencedores e dos soldados que lhe apontavam baionetas ao peito e gritavam por dinheiro, ameaçando de morte e saque violento, para lhes suplicar “humildemente” pela vida do seu “pobre povo” – perdeu dois degraus, serrados para nele se acomodar o papa João Paulo II, e foi mudado, da parede do lado esquerdo para meio do altar-mor.Debalde procuraremos, nos arredores da cidade – artigo de Túlio Espanca nas mãos e a preciosa colaboração da historiadora Conceição Retorta, da Câmara de Évora – pelas alminhas. Na ponte primitiva do Xarrama; sobre o muro da quinta do Sande; no portão da quinta do Bacelo – nenhum sinal do paralelepídedo azul, rendado e florido, que nas traseiras da quinta do Andrade deveria pedir ainda um P.N.A.M. pelas almas dos que ali pereceram “às mãos dos francezes no anno de 1808”. A poucas centenas de metros de distância da Sé, na Capela dos Ossos (“Nós outros que aqui estamos, pelos vossos esperamos”), a própria funcionária de serviço faz uma pausa na bilheteira para vir observar o túmulo para o qual o fotógrafo do P2 dispara repetidos flashes.Como se pela primeira vez estivesse a ver que D. Jacinto Carlos da Silveira, bispo titular do Maranhão, evocado na lápide, a meio, diante do altar, pertenceu afinal a alguém “morto pelos inimigos da Pátria no dia 29 de Julho de 1808”. Ali mesmo ao lado, na esquina do Largo da Graça com a Rua da República, num palácio hoje residência particular.
*****
Fontes principais: Raul Brandão, El-rei Junot, Atlântida Editora, Coimbra, 1974; Paul Thiébault, Relation de l”expedition de Portugal, Paris, 1817; José Acúrcio das Neves, História geral da invasão dos franceses em Portugal e da restauração deste reino, Edições Afrontamento; J.J. Teixeira Botelho, História Popular da Guerra Peninsular, Lello & Irmão, Editores, Porto, 1915; Túlio Espanca, Évora na Invasão Francesa de 1808, in A Cidade de Évora, Boletim da Comissão Municipal de Turismo, nº 39-40, 1957-58; Frei Manuel do Cenáculo, História descritiva do assalto, entrada e saque da cidade de Évora pelos franceses, em 1808, (Publicação de A.F.Barata) in 4º, Minerva Eborense, Évora, 1887; Padre José Joaquim da Silva, Évora Lastimosa, 1814; Vasco Pulido Valente, Ir Pró Maneta. A Revolta contra os Franceses, Alêtheia Editores, Lisboa, 2007.


In PÚBLICO – 18.11.2007

Évora - Liberalitas Júlia

Fotos JC Ramalho - Direitos de Auto Reservados / SPA

Peninsula de Setúbal


Fotos JC Ramalho - Direitos de Autor Reservados / SPA