domingo, 14 de fevereiro de 2010

Passei no Tejo à noitinha

Baía do Tarrafal - Cabo Verde

Passei no Tejo à noitinha
Com um amigo a meu lado,
Trago um barco de papel
Pró deitar no mar salgado.
Quando o barco se romper
Deito no Tejo uma estrela,
(A estrela brilha tão fundo
Que não tornarei a vê-la?)

Dizem homens e mulheres
Que nas águas desse Tejo
Barra fora lá seguiram
Camponeses do Alentejo
Que nesse tempo sentiram
O que era a triste vida,
Feita de pouco e de nada,
E por demais permitida
Em tanta vida sofrida.

Falam os homens mais velhos
Que nesse rio, ó desgraça,
Partiu barco e partiu povo
Rumo a Timor e Mombaça,
Passando pelo mar novo
Desse Cabo Bojador,
Gente de paz, sem rancor,
Que nunca a ninguém fez mal.

Dizem homens e mulheres,
Com espanto e em segredo,
Que nas margens do rio Tejo
Partiu gente pró degredo,
A navegar, navegar,
Os barcos seguiam rota
Pelos fundos desse mar,
Como se fossem às Índias
Buscar pimenta e coral,
Os barcos seguiam rota
Com homens em cativeiro,
Timor, Bié, Tarrafal,
E regressavam com ferro,
Ai, regressavam com ferro,
Madeiras, coco e sisal.

Antunes da Silva ... (Canções ao Vento)

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