Loucos notáveis no divã de Joana
Salão Nobre do Hospital Miguel Bombarda foi o local escolhido para apresentar ‘Maníacos de Qualidade’
Joana Amaral Dias apresentou ontem no Hospital Miguel Bombarda, em Lisboa, o seu primeiro livro, ‘Maníacos de Qualidade’, em que traça o retrato psicológico de vários notáveis portugueses. É o caso do Marquês de Pombal e do cineasta João César Monteiro, passando por Fernando Pessoa, D. Maria I e Antero de Quental, entre outros.
Para Eurico Figueiredo, um dos apresentadores do livro, ‘Maníacos de Qualidade’ "deveria ser integrado nas comemorações do Centenário da República", pois retrata "casos graves de personalidades que governaram Portugal com violência" antes do 5 de Outubro de 1910, referindo-se ao Marquês de Portugal (descrito como paranóico), D. Maria I, retratada como sofrendo do ‘delírio de Cotard’, e D. Afonso VI, um "psicopata". "Foram a agonia da Monarquia", justificou.
Medeiros Ferreira, outro dos oradores, salientou a pertinência da obra, que disse "inaugurar um novo estilo literário" cujo parente mais próximo será ‘Príncipes de Portugal’, de Aquilino Ribeiro.
José Luís Pio de Abreu, psiquiatra dos Hospitais da Universidade de Coimbra, e autor do prefácio, notou que uma das qualidades maiores de ‘Maníacos de Qualidade’ é o facto de a autora "ter entrado no comportamento humano" dos ‘doentes’, casos mais evidentes em Antero de Quental (bipolar), e Fernando Pessoa (diagnosticado com "pseudoloucura") e que a psicóloga conseguiu ‘tratar’.
Joana Amaral Dias, por seu lado, salientou o "processo de aprendizagem" a que o livro a obrigou, confessando-se "perplexa" com algumas coisas que descobriu, também no que diz respeito ao "papel da psicologia clínica em Portugal".
in... "Correio da Manhã"
Sinopse
Colecção: História Divulgativa
Antes de fugir para o Brasil, D. Maria I já se encontrava louca. Passava por períodos de frenesi e supunha que o seu próprio corpo estava oco. No Rio de Janeiro, imaginava que o Diabo se escondia no Pão de Açúcar. Como foi que a vida sexual de D. Afonso VI e os seus órgãos genitais acabaram escrutinados num tribunal que ambicionava demonstrar que o soberano era impotente, louco e incapaz de governar? Hoje é possível entender os bastidores das acções destes monarcas?
O Marquês de Pombal encontrar-se-ia tão obcecado com os jesuítas que só admitia conversas que os visassem. Entre os muitos que encarcerou e matou, conta-se o padre Malagrida. Qual dos dois era menos equilibrado? O iluminista que do beato fez herege para o queimar na fogueira ou o roupeta-preta que assumia a autoria de milagres e exorcismos? Um dia, Antero de Quental sentou-se num banco de um jardim público e deu dois tiros na cabeça. Porque foi que esse poeta-herói encerrou assim a sua vida? Fernando Pessoa revelou, desde cedo, uma grande preocupação com a sua própria sanidade mental, adoptando diferentes classificações psiquiátricas para si mesmo. Estaria louco ou apenas com medo?
A psicóloga clínica Joana Amaral Dias traça o retrato psicológico destas e de outras personagens tidas como loucas. Baseada numa investigação histórica cuidada e na leitura de escritos e registos biográficos e autobiográficos - cartas, diários, etc. -, a autora revela-nos a dor psiquíca destas figuras, bem como o seu respectivo diagnóstico clínico.
Porém Joana Amaral Dias vai mais longe e, nesta viagem aos universos mentais de portugueses célebres, questiona os rótulos com que estes foram marcados e os tratamentos a que foram sujeitos - da fogueira a sanguessugas, dos banhos gelados aos choques eléctricos, das tareias ao apedrejamento.
Uma reflexão original sobre a forma como ao longo dos tempos a sociedade encarou a doença mental e acerca das alianças que a Psiquiatria estabeleceu com o poder e a própria loucura.
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