sexta-feira, 19 de junho de 2009

Dr.António Simões


Soneto alargado

Olha a tarde rumorosa como alastra
P'lo soneto duma sílaba acrescida,
Para que ampla coubesse na palavra,
P'ra que fosse d'alma, p'ra que fosse viva.

Ouve a tarde como canta na cascata
Dum verso para o outro, sílaba a sílaba,
E como na água do verso sobrenada
O medo dos homens cantando em surdina.

Deixa que ela se aquiete neste lago.
Neste soneto largo e alagado,
Onde a retive, a retivemos os dois.

E na frescura e no fogo destas águas
Lavemo-nos dos medos, fobias, taras,
E limpos e claros durmamos depois.

(António Simões nasceu em Beringel, Beja, em 1934. Licenciou-se em Filologia Germânica pela Universidade de Coimbra. Tem poemas publicados em diversos jornais e revistas e faz parte da antologia "Poetas Alentejanos do Século XX")

Sem comentários:

Enviar um comentário