domingo, 14 de junho de 2009

Camões, Bocage e Florbela Espanca




Os três maiores sonetistas da Literatura Portuguesa

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Évora

Évora ! Ruas ermas sob os céus
Cor de violetas roxas...Ruas frades
Pedindo em triste penitência a Deus
Que nos perdoe as míseras vaidades !

Tenho corrido em vão tantas cidades !
E só aqui recordo os beijos teus,
E só aqui eu sinto que são meus
Os sonhos que sonhei noutras idades !

Évora! ...O teu olhar ...o teu perfil...
Tua boca sinuosa, um mês de Abril,
Que o coração no peito me alvoroça !

...Em cada viela o vulto dum fantasma....
E a minh'alma soturna escuta e pasma...
E sente-se passar menina e moça....

(Florbela Espanca)

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.


Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.


E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,


Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.(

(Luis Vaz de Camões)

Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!
Igual causa nos fez, perdendo o Tejo,
Arrostar co'o sacrílego gigante;

Como tu, junto ao Ganges sussurrante,
Da penúria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante.

Ludíbrio, como tu, da Sorte dura
Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura.

Modelo meu tu és, mas... oh, tristeza!...
Se te imito nos transes da Ventura,
Não te imito nos dons da Natureza.

(Manuel Maria Barbosa du Bocage)

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