sábado, 31 de julho de 2010

Eu sou aquele que tudo quis e tudo perdeu

1 comentário:

  1. Vinícius foi único...Como único é todo poeta...

    O Poeta e a Rosa
    Vinicius de Moraes


    Ao ver uma rosa branca
    O poeta disse: Que linda!
    Cantarei sua beleza
    Como ninguém nunca ainda!

    Qual não é sua surpresa
    Ao ver, à sua oração
    A rosa branca ir ficando
    Rubra de indignação.

    É que a rosa, além de branca
    (Diga-se isso a bem da rosa...)
    Era da espécie mais franca
    E da seiva mais raivosa.

    – Que foi? – balbucia o poeta
    E a rosa; – Calhorda que és!
    Pára de olhar para cima!
    Mira o que tens a teus pés!

    E o poeta vê uma criança
    Suja, esquálida, andrajosa
    Comendo um torrão da terra
    Que dera existência à rosa.

    – São milhões! – a rosa berra
    Milhões a morrer de fome
    E tu, na tua vaidade
    Querendo usar do meu nome!...

    E num acesso de ira
    Arranca as pétalas, lança-as
    Fora, como a dar comida
    A todas essas crianças.

    O poeta baixa a cabeça.
    – É aqui que a rosa respira...
    Geme o vento. Morre a rosa.
    E um passarinho que ouvira

    Quietinho toda a disputa
    Tira do galho uma reta
    E ainda faz um cocozinho
    Na cabeça do poeta.

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