A um tabelião velho, que casou com moça nova
Um tabelião caduco
Com mulher moça casado,
Vai portar no seu estado
Por fé o sinal de cuco:
Como já não deita suco
Por mais que puxe os atilhos,
Não lhe hão-de faltar casquilhos
Para a moça amantes novos,
Que lhe vão galando os ovos,
Ele cá criando os filhos.
Ele diz que assim o quer;
Mas de raiva dará pulos,
Vendo que são actos nulos
Os actos que ele fizer:
Sem ter direito à mulher
Que será deste demónio?
Logo então qualquer belónio
Lhe desmancha o casamento,
Porque não tem instrumento
Com que prove o matrimónio.
Tenha embora muita renda,
Seja lavrador morgado,
Mas para homem casado,
Sempre tem pouca fazenda.
É provável se arrependa
A pobre da rapariga,
Que se agatanhe e maldiga,
Quanto na noite da boda
Correr a seara toda,
E não encontrar a espiga.
Manuel Maria Barbosa du Bocage
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