Publicou o Dr. Artur Ervideira no ano de 1951 um livro a que deu o título de : "Os meus podengos". Conheço esta obra desde toda a vida, visto que foi oferecido um exemplar pelo autor ao meu avô paterno, o qual está na minha posse há muitos anos. O passo que vou transcrever relaciona-se com um padre que exerceu o seu oficio na aldeia de Montoito nesses tempos idos dos finais do século XIX. Assim sendo, escreve o autor:
" Nunca esquecerei a primeira matilha de podengos que vi, apesar de já terem descorrido cerca de cinquenta anos. Era constituída por um grupo de animais admiráveis, todos pretos retintos, todos iguais em tamanho e todos belos, nas suas formas. Pertenciam ao prior da aldeia de Montoito, homem rude, cor tisnada pelo sol do Alentejo, sempre entregue à caça, e sempre indiferente à fome e ao cansaço. Não obstante ser padre, a sua profissão era a caça, para ela vivia e só nela pensava. Nunca se encontrava o prior de Montoito, sem que estivesse rodeado da sua linda matilha de podengos negros. A vida deste padre caçador é tão original e está tão ìntimamente ligada à primeira matilha de podengos que conheci, que não posso referir-me aos meus podengos, sem que a ele me refira também. O seu nome não interessa, o que interessa, são as suas proezas, todas realizadas à volta das suas caçadas, e dos seus lindos podengos negros como as amoras. Em tempo de caça, poucas eram as vezes que este padre entrava na sua igreja, e quando o dever do oficio o obrigava a qualquer cerimónia religiosa, tudo se fazia o mais rápidamente possível, porque os campos, então cobertos de extensos matagais, o chamavam a cada momento. Os habitantes da aldeia de Montoito viam-no a cada passo, e em qualquer lugar, fazer os registos de baptizados e casamentos, no seu livro de mortalhas, e passado algum tempo, o cigarro fazia-se, e os apontamentos tomados nunca mais eram passados para os livros da igreja, e tudo desaparecia com o fumo do seu cigarro. Quando aos Domingos, antes do romper do sol, se dirigia à igreja para dizer missa, já ia preparado para a caça, a sua cartucheira ficava sempre bem amarrada por debaixo dos paramentos, e os podengos esperavam-no à porta da igreja, quando não o rodeavam no altar. Depois da missa lá iam todos de súcia, o bom do padre e os seus podengos, e não tardava muito, que se ouvissem gritar e laticar pelas quebradas dos montes, em perseguição dos coelhos, nessa época bastante abundantes.
Estes lindos podengos, por si só, arrebatariam hoje os melhores prémios de qualquer exposição canina, e foram eles que desenvolveram em mim o entusiasmo por esta raça de cães, tão cheia de atractivos. "
" Nunca esquecerei a primeira matilha de podengos que vi, apesar de já terem descorrido cerca de cinquenta anos. Era constituída por um grupo de animais admiráveis, todos pretos retintos, todos iguais em tamanho e todos belos, nas suas formas. Pertenciam ao prior da aldeia de Montoito, homem rude, cor tisnada pelo sol do Alentejo, sempre entregue à caça, e sempre indiferente à fome e ao cansaço. Não obstante ser padre, a sua profissão era a caça, para ela vivia e só nela pensava. Nunca se encontrava o prior de Montoito, sem que estivesse rodeado da sua linda matilha de podengos negros. A vida deste padre caçador é tão original e está tão ìntimamente ligada à primeira matilha de podengos que conheci, que não posso referir-me aos meus podengos, sem que a ele me refira também. O seu nome não interessa, o que interessa, são as suas proezas, todas realizadas à volta das suas caçadas, e dos seus lindos podengos negros como as amoras. Em tempo de caça, poucas eram as vezes que este padre entrava na sua igreja, e quando o dever do oficio o obrigava a qualquer cerimónia religiosa, tudo se fazia o mais rápidamente possível, porque os campos, então cobertos de extensos matagais, o chamavam a cada momento. Os habitantes da aldeia de Montoito viam-no a cada passo, e em qualquer lugar, fazer os registos de baptizados e casamentos, no seu livro de mortalhas, e passado algum tempo, o cigarro fazia-se, e os apontamentos tomados nunca mais eram passados para os livros da igreja, e tudo desaparecia com o fumo do seu cigarro. Quando aos Domingos, antes do romper do sol, se dirigia à igreja para dizer missa, já ia preparado para a caça, a sua cartucheira ficava sempre bem amarrada por debaixo dos paramentos, e os podengos esperavam-no à porta da igreja, quando não o rodeavam no altar. Depois da missa lá iam todos de súcia, o bom do padre e os seus podengos, e não tardava muito, que se ouvissem gritar e laticar pelas quebradas dos montes, em perseguição dos coelhos, nessa época bastante abundantes.
Estes lindos podengos, por si só, arrebatariam hoje os melhores prémios de qualquer exposição canina, e foram eles que desenvolveram em mim o entusiasmo por esta raça de cães, tão cheia de atractivos. "
Vila de Montoito, não aldeia
ResponderEliminar