terça-feira, 30 de junho de 2009

Balada da Neve - Augusto Gil


Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho…

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria…
. Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho…

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança…

E descalcinhos, doridos…
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!…

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!…
Porque padecem assim?!…

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração
*****
Augusto Gil nasceu em Lordelo do Douro em 1873 e faleceu em Lisboa em 1929. Licenciado em Direito, exerceu advocacia na capital e foi mais tarde Director Geral das Belas Artes. A sua poesia é influenciada pelo Parnasianismo e pelo Simbolismo. Escreveu entre outros livros, Luar de Janeiro, O Canto da Cigarra e Rosas Desta Manhã.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Ao correr as ruas da velha cidade

Foto JC Ramalho


Ao correr as ruas da velha cidade,
Onde nasci, deu os primeiros passos, cresci;
Os meus tempos de infância revivi,
Absorvido numa profunda saudade.

Recordei momentos de felicidade,
Felicidade que com o tempo perdi;
Mas o tempo que passou não esqueci,
Nem jamais esquecerei essa idade.

Mais tarde, surgiram grandes contradições,
Contrariando mil e uma ilusões,
Que em criança tinha alimentado.

Porque então, tudo era um mar de rosas,
Mas as rosas tornaram-se espinhosas,
E de espinhos é composto meu fado.

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Rio Degebe ao entardecer

Foto JC Ramalho



Deslizando lentamente
Na planicie alentejana
O Degebe suavemente
Vai abraçar o Guadiana

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Uma viagem dura e ardorosa

Foto JC Ramalho

Uma viagem dura e ardorosa,
Percorrida com dor e sofrimento;
Uma viagem sempre com aumento,
De desilusão, por ser tão dolorosa.

Do principio ao fim é caprichosa,
Em contrariar todo o sentimento;
Para nós só traz grande tormento,
E torna-se realmente inditosa.

Levam-se anos sempre a caminhar,
Para que a meta seja atingida.
Tantos obstáculos a ultrapassar,

Nesta louca e imensa corrida.
Para de repente tudo acabar,
Que estranha viagem... é a vida!...




Muita gente inocente tens matado



Muita gente inocente tens matado,

Tanta gente ns prisões acorrentada;

Tanta familia já foi destroçada,

Um Povo inteiro por ti subjugado.

Um Povo que tem sido escravizado,

Dentro da sua Pátria tão amada;

Vitíma da fúria desenfreada,

Dum bandido como tu, óh desgraçado.

Governas contra a vontade popular,

Com o teus esbirros para te guardar,

Feroz animal, sangrento, cruél e vil.

Mas podes crer que a vitória final,

(Que fará caír o teu jugo infernal),

Libertará todo o Povo do Chile

21.08.1975

O prior da minha aldeia


Havia na minha aldeia certo prior,
Que um dia me despertou a atenção;
Pois à custa da sua nobre profissão,
Brilhava por ser um grande explorador.

Ao dizer missa por alma dum pecador,
Tinha que ser grande a remuneração;
Pois só assim cumpria a obrigação,
De encomendar essa alma ao Senhor!...

E foi assim que esse real bandido,
Se viu em pouco tempo enriquecido,
E pensou tomar novo rumo de vida.

E um dia, sem dizer nada... abalou!...
E ao partir nem a igreja escapou,
Deixando-a completamente falida!...

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Recordo um passado que me pertenceu


Recordo um passado que me pertenceu,
Um passado que passou rápidamente;
Um passado em que amei loucamente,
A mulher mais bela que Deus ao mundo deu.

Foi com ela que meu coração aprendeu,
O que é amar alguém, o que se sente,
Quando se ama verdadeiramente,
E de repente, esse amor se perdeu.

E eu que acreditei tanto no amor,
Dele só me resta uma profunda dor,
Acompanhada da maior desilusão.

Mas embora tente tanta vez esquecer,
Não consigo... ainda mais vou reviver,
O drama que se arrasta no meu coração.

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sexta-feira, 26 de junho de 2009

Com seu ar selvagem invocando terror


Os métodos do ensino à moda do antigamente chegou atingir proporções
de grande brutalidade por parte de alguns professores do ensino primário, que à falta de melhor pedagogia partiam para a agressão, forte e feio nas crianças que apresentavam um maior grau de dificuldade em aprender. No caso do soneto abaixo transcrito, venho recordar um desses personagens... que, ouvi da boca de alguns seus alunos, enquanto crianças, verdadeiras histórias de arrepiar... para que fique registado e não caia no esquecimento...




Com seu ar selvagem invocando terror,
Ás timídas crianças que ensinava;
Sua bruteza com vaidade mostrava,
Na sua baixa moral... o professor!...

Reinava o fascismo e esse senhor,
Nos filhos dos outros, sem dó, desancava;
E só a sua presença amedrontava,
Os seus alunos... vitimas do seu furor.

Sua forma de ensinar era a agressão,
Mente perversa, criminosa, pois então,
Psicopata completamente frustrado...

E apesar de todo o mal que praticou,
A justiça deste país nunca o julgou,
Ele que devia ter sido encarcerado!

quinta-feira, 25 de junho de 2009

O Padre Caçador

Publicou o Dr. Artur Ervideira no ano de 1951 um livro a que deu o título de : "Os meus podengos". Conheço esta obra desde toda a vida, visto que foi oferecido um exemplar pelo autor ao meu avô paterno, o qual está na minha posse há muitos anos. O passo que vou transcrever relaciona-se com um padre que exerceu o seu oficio na aldeia de Montoito nesses tempos idos dos finais do século XIX. Assim sendo, escreve o autor:
" Nunca esquecerei a primeira matilha de podengos que vi, apesar de já terem descorrido cerca de cinquenta anos. Era constituída por um grupo de animais admiráveis, todos pretos retintos, todos iguais em tamanho e todos belos, nas suas formas. Pertenciam ao prior da aldeia de Montoito, homem rude, cor tisnada pelo sol do Alentejo, sempre entregue à caça, e sempre indiferente à fome e ao cansaço. Não obstante ser padre, a sua profissão era a caça, para ela vivia e só nela pensava. Nunca se encontrava o prior de Montoito, sem que estivesse rodeado da sua linda matilha de podengos negros. A vida deste padre caçador é tão original e está tão ìntimamente ligada à primeira matilha de podengos que conheci, que não posso referir-me aos meus podengos, sem que a ele me refira também. O seu nome não interessa, o que interessa, são as suas proezas, todas realizadas à volta das suas caçadas, e dos seus lindos podengos negros como as amoras. Em tempo de caça, poucas eram as vezes que este padre entrava na sua igreja, e quando o dever do oficio o obrigava a qualquer cerimónia religiosa, tudo se fazia o mais rápidamente possível, porque os campos, então cobertos de extensos matagais, o chamavam a cada momento. Os habitantes da aldeia de Montoito viam-no a cada passo, e em qualquer lugar, fazer os registos de baptizados e casamentos, no seu livro de mortalhas, e passado algum tempo, o cigarro fazia-se, e os apontamentos tomados nunca mais eram passados para os livros da igreja, e tudo desaparecia com o fumo do seu cigarro. Quando aos Domingos, antes do romper do sol, se dirigia à igreja para dizer missa, já ia preparado para a caça, a sua cartucheira ficava sempre bem amarrada por debaixo dos paramentos, e os podengos esperavam-no à porta da igreja, quando não o rodeavam no altar. Depois da missa lá iam todos de súcia, o bom do padre e os seus podengos, e não tardava muito, que se ouvissem gritar e laticar pelas quebradas dos montes, em perseguição dos coelhos, nessa época bastante abundantes.
Estes lindos podengos, por si só, arrebatariam hoje os melhores prémios de qualquer exposição canina, e foram eles que desenvolveram em mim o entusiasmo por esta raça de cães, tão cheia de atractivos. "
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Na minha nau quinhentista vou zarpar


Aqui da Ocidental Praia Lusitana,
Na minha nau quinhenta vou zarpar;
Que bons ventos a façam navegar,
Rumando ao encontro duma baiana!

Baiana linda, sublime, encantada,
Seus atributos não canso de exaltar;
Soltando a rima, eu a quero imortalizar,
E entre as musas jamais será olvidada!

Morena que incendias meu coração,
Que me fazes brotar poesia, emoção ,
Sentimento a que chamamos amor...

Vem, que a minha nau, enfim, chegou!...
O mar oceano, imenso, já sulcou
P´ra sentir a tua aura, o teu esplendor!...

Seria sublime, fogo, paixão


É contigo no pensamento
Que escrevo desta maneira
És uma jóia verdadeira
A do meu contentamento
És do meu estro o alimento
Disso podes ter a certeza
Canto em louvor tua beleza
Só tu me podes motivar
Mil versos sempre a rimar
Estrela de primeira grandeza!


Se eu pudesse amor, te abraçar
Envolver-te pela tua cintura
Demonstrar-te minha ternura
Com mil beijos te endoidar
O desejo em ti despertar
Ardente em teu coração
Seria sublime,fogo,paixão
Um momento maravilhoso
De certeza o mais gostoso
Envolvido em puro tesão

Caminhei na noite escura


Caminhei na noite escura
Andei à tua procura
Não te consegui encontrar
Por ruelas escondidas
Travessas e avenidas
Dirigi meu caminhar
E por fim já fatigado
(Embora contrariado)
Desisti de te procurar
Mais uma noite perdida
Que passou na minha vida
E eu vivo só para te amar
És a estrela inspiradora
A mais bela e sedutora
Que o sol um dia viu nascer
Se o teu amor não alcançar
Nem poderás imaginar
A tristeza do meu viver
Vou seguir o meu caminho
Penso e medito sózinho
Se serei feliz a teu lado
Eu por mim tenho a certeza
Que te amo com franqueza
E é para ti este meu fado...

Despertar os teus sentidos


Quero sentir o teu poder arrebatador,
O desejo que transportas no teu ser;
Despertar os teus sentidos de mulher,
De fêmea que se entrega ao seu amor!...

Vem... sem falsos preconceitos ou pudor,
Quero sentir o teu toque... estremecer...
Tua respiração ofegante, o teu gemer
Teus sussuros de prazer a fazer amor!...

Percorro teu corpo moreno... desnudado,
Sentir em ti o doce sabor do pecado,
Provocando em mim tamanha sedução;

Momento único imagina... tão gostoso,
Em que juntos partilhamos total gozo,
Na hora de sentirmos nossa explosão!...

Se meus versos alimentam tua paixão


Se meus versos alimentam tua paixão
E incendiam tua alma apaixonada;
Se te sentes uma mulher desejada
Não resistas, deixa falar o coração...

Existe em nós uma sublime vibração,
Onde te sentes perdida, por mim tomada?
Então vem minha musa, minha fada
Encantar-me com toda a tua sedução

Quero sentir todo o calor do teu ser
O teu charme e encanto de mulher
A volupia que só tu me sabes provocar;

E como é grande essa intensidade...
Momentos loucos de pura fogosidade,
Em que deixamos a imaginação rolar!...

Catarina Eufémia


Catarina Efigénia Sabino Eufémia (nascida a 13 de Fevereiro de 1928, morta a tiro a 19 de Maio de 1954) foi uma ceifeira alentejana analfabeta que, na sequência de uma greve de assalariadas rurais, foi assassinada, aos 26 anos, pelo tenente Carrajola da GNR em Monte do Olival, Baleizão, perto de Beja, Alentejo. Catarina tinha três filhos, um dos quais de oito meses, que estava no seu colo no momento em que foi baleada. A história trágica de Catarina acabou por personificar a resistência ao regime salazarista, sendo adoptada pelo PCP como ícone da resistência no Alentejo. Sophia de Mello Breyner, Carlos Aboim Inglez, Eduardo Valente da Fonseca, Francisco Miguel Duarte, José Carlos Ary dos Santos, Maria Luísa Vilão Palma e António Vicente Campinas dedicaram-lhe poemas. O poema de Vicente Campinas "Cantar Alentejano" foi musicado por Zeca Afonso no álbum "Cantigas de Maio" editado no Natal de 1971.
Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer
Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou
Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou
Aquela pomba tão branca
Todos a querem p'ra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti
Aquela andorinha negra
Bate as asas p´ra voar
Ó Alentejo esquecido
inda um dia hás-de cantar
Poema e música de José Afonso,in Cantigas do MaioGravura de Dias Coelho(também ele assassinado pela PIDE)

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Soneto para Bocage de Ary dos Santos




Meu sacana de versos! Meu vadio.
Fazes falta ao Rossio. Falta ao Nicola.
Lisboa é uma sargeta. É um vazio.
E é raro o poeta que entre nós faz escola.

Mastigam ruminando o desafio.
São uns merdosos que nos pedem esmola.
Aos vinte anos cheiram a bafio
têm joanetes culturais na tola.

Que diria Camões nosso padrinho
ou o Primo Fernando que acarinho
como Pessoa viva à cabeceira?

O que me vale é que não estou sozinho
ainda se encontram alguns pés de linho
crescendo não sei como na estrumeira!

Friedrich Wilhelm Nietzsche

Friedrich Wilhelm Nietzsche , filósofo alemão do século XIX, nasceu em 1844 e faleceu em 1900, nasceu numa familia luterana sendo igualmente destinado a ser pastor como seu pai. Durante a adolescência perde a fé e afasta-se da Teologia. Aluno brilhante com uma sólida formação clássica, é nomeado as 25 anos professor de Filologia na Universidade de Basileia. "Assim falava Zaratustra" e "Além do Bem do Mal" são algumas das suas melhores obras.
*****
- "Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura "
- "Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal "
- "Não é a intensidade dos sentimentos elevados que faz os homens superiores, mas a sua duração"
- "A mulher aprende a odiar na medida em que desaprende - de encantar"

Porquê ser Poeta?


Ser Poeta é saber cantar...
Ser Poeta é saber sorrir...
Ser Poeta é ter de enfrentar,
Esta vida sem desistir.

Ele canta a musa eleita,
Que lhe dá a inspiração;
Chora a esp'rança desfeita,
Desabafa co'a solidão.

Faz versos cheios de beleza,
Fama consegue granguear;
Mas ele tem a certeza,
Que são parte do seu penar.

No seu Destino tão fatal,
Encontra muitos espinhos;
Porque ser Poeta afinal,
P´ra ele não há carinhos.

Chora por dentro o coração,
Do Poeta entristecido;
Sem encontrar compreensão,
Sente-se desiludido.

Sofre tanto concerteza,
E com a alma a soluçar
O Poeta com tristeza,
Continua sempre a cantar.





Tanto tempo já passou




Tanto tempo já passou,
Mas o tempo não chegou,
Para este amor apagar;
Esse amor tão profundo,
Maior amor do mundo,
Que eu jamais quero olvidar.

Teus olhos cor de carvão,
Com encanto e sedução,
Que um dia eu tanto amei;
Magia do teu olhar,
Nesse teu ar de endoidar,
Nobre musa me inspirei.

Recordando o passado,
Canto para ti este fado,
Com amor e devoção;
Embora sejas casada,
Serás sempre desejada,
Dentro do meu coração.

Se é pecado eu amar-te,
Se é pecado desejar-te,
Tenho que cumprir a pena;
Porque enquanto eu viver,
Amar-te-ei até morrer,
Sabes bem linda morena.

Meu poema vai findar,
A minh'alma a soluçar,
Carregada de emoção;
Tu foste o amor primeiro,
Esse amor tão verdadeiro,
Minha grande motivação.



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terça-feira, 23 de junho de 2009

Prof. Janeiro Acabado



Não podendo ser aqui exaustivos em referências ao Professor Janeiro Acabado e à sua obra, deixamos uma breves notas extraídas do folheto publicado aquando da homenagem prestada em 1988:
- MANUEL ANTÓNIO JANEIRO ACABADO nasceu na então aldeia de Pias, concelho de Serpa, a 24 de Novembro de 1888.
- Faleceu em 12 de Fevereiro de 1970.
- Diplomado pela Escola Normal de Coimbra, que frequentou de 1914 a 1916.
- «... Dedicou toda uma vida ao Ensino, e de forma especial ao ensino inicial da leitura, de que é prova o seu tão conhecido Método Janeiro Acabado, bem como à formação de Professores para o ensino primário, de que é prova a sua responsabilidade na criação das Escolas do Magistério Primário de Beja nos anos 30 e 50».
- Foi Professor do Ensino Primário, inspector, vogal do júri único dos Exames de Estado do Magistério Primário, Vogal da Junta Nacional de Educação, Presidente do Júri dos Exames de Adultos do Distrito de Lisboa; até à sua morte, exerceu o cargo de director da Escola do Magistério Primário de Beja (que fundara em 1956).
- Em 10 de Julho de 1956 foi condecorado pelo presidente da República, General Craveiro Lopes, com o grau de Cavaleiro da Ordem de Instrução Pública.
- A sua obra é vastíssima: obra didáctica; obra pedagógica; obra sobre folclore; conferências.
Da sua obra didáctica distinguem-se: os trabalhos sobre iniciação à leitura; os livros didácticos propriamente ditos; os livros de literatura infantil.
1938 – Publica Livrinho Para Aprender a Ler, revelador de uma vida dedicada ao ensino e de uma profundidade de conhecimentos e fundamentação psico - pedagógica.
1941 – Publica Ensinemos a Ler, precursor da Campanha Nacional Contra o Analfabetismo.
1946 – Publica A Leitura Inicial e o seu Globalismo, In Criança Portuguesa.

José Régio

José Régio nasceu em Vila do Conde em 1901 e faleceu também nesta cidade em 1969. Professor jubilado do Liceu de Portalegre, viveu grande parte da sua vida nesta cidade alentejana. Como escritor dedicou-se à prosa, poesia, teatro e ensaio, reflectindo toda a sua obra o conflito entre Deus e o Homem, o individuo e a sociedade. Considerado um dos grandes vultos da moderna Literatura Portuguesa, escreveu entre outros os livros, Poemas de Deus e do Diabo, O Principe com Orelhas de Burro, Benilde ou a Virgem-Mãe. Durante toda a sua vida teve uma participação na vida pública em que se manteve fiél aos seus ideais socialistas, apesar da ditadura que vigorava em Portugal. Foi apoiante de Norton de Matos e mais tarde de Humberto Delgado para as eleições presidencias. Em 1970 recebeu o Prémio Nacional de Poesia e as suas casas de Portalegre e de Vila do Conde são hoje casas-museu.
CÂNTIGO NEGRO
"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!
"Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí!
Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens
,E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

Os cucos


Como é horrorosa esta sociedade,
E os homens não a querem modificar;
Só têm ambição, só pensam em matar,
Expandindo, assim, a sua crueldade.

Que terrível raça é a humanidade,
Do poder do mal, nao se sabe libertar;
É a sede do poder, para dominar,
Impondo aos outros a sua autoridade.

Ela fomenta as diferenças sociais,
A seu ver alguns homens não são iguais;
Farrapos humanos que ela desenvolveu.

E lança-os no abismo, na podridão,
Em hospitais psiquiátricos, na prisão,
E acunha-os de loucos p'ra proveito seu.


1975

Sou livre ninguém me pode acorrentar


Como as aves que voam em liberdade,
Cruzando os horizontes dos céus a cantar;
Também eu sou livre para poder falar,
E exprimir a minha própria vontade.

Detesto esta corrupta sociedade,
Onde existem senhores p'ra nos subjugar;
Eu sou livre, ninguém me pode acorrentar,
E não posso aceitar a escravidade.

Eu nasci livre e livre pretendo ser!...
Livre para pensar, livre para escrever,
E ter a minha própria opinião.

E duma coisa que eu jamais abdicarei,
Mas a ela os meus esforços juntarei,
Será sempre a liberdade de expressão.



Fernando Pessoa

MAR PORTUGUÊS

Ó mar salgado,
quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos,
quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena?
Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Eça sempre actual

José Maria Eça de Queiroz que tão bem descreveu o sociedade portuguesa dos finais do século XIX e os politicos que governaram o país nessa época, está sempre actual, pois, como soi dizer-se, parece que só as moscas mudaram... os governantes, pelos vistos continuam a ser uma nódoa... e quem se lixa é o Zé Povinho, claro está...
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Em tudo dos outros era diferente


"Sabe-Tudo" era um tipo fanfarrão,
Que de todos se pensava superior;
E a criticar os outros era o melhor,
Porque ele, fazia nisso, muita questão.

Combatera na guerra; - era um valentão!
Daqueles de palmo e meio... mas por favor!...
Porque o sacana era um grande estupor,
Com mentalidade mais baixa do que um cão!...

Mas tendo-se como muito inteligente,
Tudo discutia com autoridade... (?)...
Desde um assunto passado ao recente!...

Era um homem de forte mentalidade,
Em tudo dos outros era diferente;
Em estupidez... era uma raridade!...

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segunda-feira, 22 de junho de 2009

Évora - Cidade Milenar

Évora, capital do Alentejo, cidade-museu e Património da Humanidade. Suas origens perdem-se na poeira dos tempos. Por aqui passaram os mais diversos povos que a moldaram ao longo dos séculos. Conquistada para a coroa portuguesa em 1165, foi aqui que a Dinastia de Aviz se instalou com especial incidência nos reinados de D.João II, D.Manuel I e D.João III. A saga dos descobrimentos foi emanada a partir de Évora, pois, com a corte aqui instalada, foi nesta cidade que se tomaram as decisões politicas mais importantes da época. Perdida a independência em 1580, o embrião da revolta para a Restauração germinou a partir da Alterações de Évora de 1637 ou Revolta do Manuelinho. Cidade monumental tem conservado ao longo dos tempos a herança histórica e
cultural que lhe foi legada e chegou ao século XXI como exemplo desse passado devidamente
preservado.
(Foto JC Ramalho)
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domingo, 21 de junho de 2009

Imperador Sócrates

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Guerra Junqueiro escreveu em 1886: «Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que já nem com as orelhas é capaz de sacudir as moscas...»
E outro não menos ilustre Transmontano, Miguel Torga, exarou: «Pobre povo, fazem-te tudo o que de pior pode fazer-se a um ser humano... e tu continuas ajoelhado com fé de procissão...»

Outono... Folhas caídas...

Foto JC Ramalho



Outono!... Folhas caídas...
Varridas pelo vento
Rol de esperanças perdidas
De tantas noites vividas
Em uníssono lamento

Partiste num dia frio de Janeiro
Na senda dum Destino por cumprir
Momento final, cruél, derradeiro
Restaram as mágoas para carpir...

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sábado, 20 de junho de 2009

Na escola amargurada da vida



Na escola amargurada da vida,
Aprendi a ganhar e também a perder;
E apesar de gostar muito de vencer,
Quando perco, é de cabeça erguida.

É muito raro perder uma partida,
Mas na vida, tudo pode acontecer;
Contudo se perco, tento-me esquecer
Se essa derrota não é merecida.

E então, luto mesmo para triunfar...
Esse desaire tenho de o ultrapassar,
Empenhando-me de alma e coração.

E ao proceder assim, serenamente,
A vitória surgirá eloquente,
Suplantando uma triste recordação!...

Adriano Correia de Oliveira





"TROVA DO VENTO QUE PASSA" - O poema de Manuel Alegre na voz de Adriano Correia de Oliveira, simbolo da resitência anti-fascista em prol das liberdades fundamentais.

Presidente confia no Sr. Engenheiro

Pela cara de admiração que Cavaco Silva demonstra, claro está, que o Presidente está em clara sintonia com o "nosso primeiro"!... Então o homem é lá um Pinóquio qualquer que ganhando as eleições com maioria absoluta, faltou às promessas que fez ao eleitorado que o elegeu?... Nada disso... o homem prometeu e cumpriu: cento e cinquenta mil postos de trabalho, não aumento dos impostos, inflacção estacionária, nada de convulsões sociais... o Zé Povinho está satisfeito e não levanta ondas... somos um povo feliz e orgulhoso dos politicos que nos governam. Tirando os despedimentos em massa que lançam diáriamente milhares de trabalhadores no desemprego, o aumento dos combustíveis a cada hora que passa... a agitação social provocada pelos professores, as lutas sindicais, as cargas policiais, o caso Freeport, os compadrios a que diáriamente assistimos... as broncas do BPN e do BPP... tirando este e outros casos o homem até governa de forma satisfatória e no interesse dos trabalhadores e não das classes sociais acima da média. O prof.Cavaco Silva, que também já se viu investido nas mesmas funções de 1º Ministro foi um exemplo de boa governação (Republica do Cavaquistão, lembram-se?)... cargas policiais na Ponte 25 de Abril...policias a baterem em policias... o desprezo total pelas camadas trabalhadoras, etc...etc... afinal quando estão lá no alto do poleiro são todos iguais. A festa continua... seguem-se os próximos capítulos... eles estão mesmo em sintonia...
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sexta-feira, 19 de junho de 2009

As paixões que eu cantei

Nos meus tempos de estudante,
Tempos que vão tão distantes,
Foram os tempos do liceu;
Que guardo no coração,
Como grata recordação,
Desse tempo que foi o meu.
Mulheres lindas eu cantei,
Em mil poemas que inventei,
Dando-lhe forma e expressão;
Mulheres belas enalteci,
Nesses poemas que escrevi,
Vibrados com tanta paixão.
Cantei a Isabel Maria,
Como sinto nostalgia,
Olhando o tempo que passa;
Concentro o meu pensamento,
Sem esquecer neste momento,
Também a Maria da Graça.
Maria Helena a trigueira,
Entre todas a primeira,
Minha musa preferida;
Que bem alto posso afirmar,
Sem perigo de exagerar,
Foi a mulher da minha vida.
Outras, porém, me inspiraram,
Meus poemas celebraram,
A Fernanda, a Alda Maria;
Sem esquecer a Manuela,
Mulher formosa, tão bela,
Tudo isso se passou um dia.
Foram estas as maiores,
Minhas paixões, meus amores,
Estrelas do meu universo
Que me fizeram despertar,
Para a arte de versejar,
P´rás poder cantar em verso.


Dr.António Simões


Soneto alargado

Olha a tarde rumorosa como alastra
P'lo soneto duma sílaba acrescida,
Para que ampla coubesse na palavra,
P'ra que fosse d'alma, p'ra que fosse viva.

Ouve a tarde como canta na cascata
Dum verso para o outro, sílaba a sílaba,
E como na água do verso sobrenada
O medo dos homens cantando em surdina.

Deixa que ela se aquiete neste lago.
Neste soneto largo e alagado,
Onde a retive, a retivemos os dois.

E na frescura e no fogo destas águas
Lavemo-nos dos medos, fobias, taras,
E limpos e claros durmamos depois.

(António Simões nasceu em Beringel, Beja, em 1934. Licenciou-se em Filologia Germânica pela Universidade de Coimbra. Tem poemas publicados em diversos jornais e revistas e faz parte da antologia "Poetas Alentejanos do Século XX")

Francisco José



Natural de Évora, Francisco José (1924 - 1988) viveu grande parte da sua vida no Brasil, país onde alcançou grande popularidade. Grandes êxitos deste cantor romântico ainda hoje são recordados como "Olhos Castanhos" ou "Guitarra Toca Baixinho".

Dr. Alberto Janes


Não sei, não sabe ninguém

Por que canto o Fado

Neste tom magoado

De dor e de pranto

E neste tormento

Todo o sofrimento

Eu sinto que a alma

Cá dentro se acalma

Nos versos que canto



Foi Deus

Que deu luz aos olhos

Perfumou as rosas

Deu oiro ao sol

E prata ao luar

Foi Deus que me pôs no peito

Um rosário de penas

Que vou desfiando

E choro a cantar

E pôs as estrelas no céu

E fez o espaço sem fim

Deu o luto às andorinhas

Ai, e deu-me esta voz a mim



Se canto

Não sei o que canto

Misto de ventura

Saudade ternura

E talvez amor

Mas sei que cantando

Sinto o mesmo quando

Se tem um desgosto

E o pranto no rosto

Nos deixa melhor



Foi Deus

Que deu voz ao vento

Luz ao firmamento

E deu o azul às ondas do mar

Foi DeusQue me pôs no peito

Um rosário de penas

Que vou desfiando

E choro a cantar

Fez poeta o rouxinol

Pôs no campo o alecrim

Deu as flores à primavera

Ai, e deu-me esta voz a mim.



Alberto Janes, natural de Reguengos de Monsaraz, Licenciado em Farmácia foi autor privativo de Amália Rodrigues; escreveu alguns dos seus melhores fados: Foi Deus, Vou dar e Beber à dor, É ou não é, Caldeirada, etc... A C.M.Reguengos perpetuou o nome do autor dando o seu nome a uma das artérias da cidade.

Conde de Monsaraz - António de Macedo Papança




CONDE DE MONSARAZ [Reguengos de Monsaraz, 1852 - Lisboa, 1913] Filho de uma abastada família alentejana, António de Macedo Papança formou-se em Direito na Universidade de Coimbra, foi eleito deputado e agraciado com o título de conde de Monsaraz. Com o advento da República exilou-se em Paris, voltando a Portugal em 1913, ano em que morreu. Tendo sofrido, ainda em Coimbra, a influência de João Penha, a sua poesia é, nas linhas gerais, moldada pela escola parnasiana, aliando uma grande preocupação formal com uma eloquência por vezes um tanto retórica, que pode atingir momentos de certo dramatismo. A partir de dada altura nota-se também uma outra influência, a de Cesário Verde, de quem, de resto, era amigo. Versejador fácil, o conde de Monsaraz não se salienta, no entanto, por uma grande originalidade, nem de temas nem de processos. Numa das últimas obras, Musa Alentejana, dá-nos, porém, toda a medida do seu talento: sensibilidade toda voltada para o exterior, sensual e optimista, é na pintura das pequenas cenas campestres e familiares, na descrição dos montes, dos trigais e dos rebanhos do ambiente natal, que este poeta encontra o justo acento do seu lirismo. O Alentejo, visto do ângulo complacente de um rico senhor da terra, é-nos dado na pobreza e resignação dos homens, nos costumes particulares, na mudança das estações e na sua perenidade. Servindo-se de imagens naturalistas, descreve minuciosamente a atmosfera própria da terra a que se sente tão ligado, podendo, deste modo, integrar-se na corrente nacionalista do primeiro quartel do século XX, que, procurando fazer reviver os valores menos contaminados da nossa cultura, inspirou os poetas do Integralismo Lusitano, particularmente António Sardinha. Cultivou também, ainda que episodicamente, o teatro, quer como tradutor de dramas românticos, quer como autor, com o poema dramático "Benvinda".(in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. II, Lisboa, 1990)

Musa minha ardentemente cantada


Musa minha ardentemente cantada,
Fonte sublime da minha inspiração;
Que alimentas este sonho, esta ilusão,
Mulher bela, para mim, tão desejada.

Mas minha pobre sina, desventurada,
Faz-me sentir a minha grande frustração;
Porque ao amar-te, talvez não tenha razão,
Conheci-te tarde de mais... és casada!...

Porém, como resistir ao teu encanto?
Encanto que a Vénus faria espanto,
Ela que por mil Poetas foi cantada!...

Foi deusa do amor na mitologia,
Mas em meus versos, na minha poesia,
Só tu me dás inspiração redobrada!...