O livro “José Afonso – Todas as Canções” foi apresentado sexta-feira à noite, no Porto, e reúne as partituras, letras e cifras das 159 músicas originais criadas pelo cantor, falecido em 1987.
“É uma boa coisa ter-se finalmente conseguido publicar este livro”, começou por referir José Mário Branco, um dos quatro autores deste livro, dirigindo-se às mais de cem pessoas que se deslocaram à Fundação José Rodrigues para a apresentação da obra.
José Mário Branco, que conheceu bem Zeca Afonso e com ele fez vários trabalhos e espetáculos, lamentou ter sido preciso “esperar quase um quarto de século por um livro como este”, igualmente assinado por Guilhermino Monteiro, João Lóio e Octávio Fonseca, também eles músicos.
Decorreram “seis anos” entre o início do trabalho e a sua publicação, tudo devido à oposição de um familiar, que não deu a necessária autorização, segundo explicou.
“Foi muito triste e muito chato”, completou José Mário Branco, referindo-se a esse contratempo, que seria depois ultrapassado com a entrada em cena de uma filha de Zeca Afonso.
Octávio Fonseca disse à Agência Lusa que “aqui só estão publicadas as canções que foram editadas em disco, com exceção dos fados de Coimbra que não são da autoria dele, de resto, está tudo”.
“Se formos a ver, é a primeira vez que em Portugal há a obra completa de um cantautor publicada”, referiu ainda.
Com edição da Assírio & Alvim, o livro “José Afonso – Todas as Canções” é fruto de um “trabalho muito árduo”, continuou Octávio Fonseca, especificando que “há canções que se escreveram em cinco minutos, mas há canções que demoraram seis horas a escrever”.
A sua conclusão é que a música de José Afonso não tem, afinal, nada de simples, ao contrário do que alguns opinam.
“Desafiava essas pessoas a escreverem a sua música para verem se é simples ou não”, rematou.
O autor deparou-se com temas “muito difíceis”, como por exemplo os do álbum Eu Vou Ser Como a Toupeira, de 1972, do qual faz parte a célebre canção A Morte Saiu à Rua.
José Mário Branco traçou um breve retrato sobre Zeca Afonso.
“É um caso raro na música popular no mundo”, sintetizou.
Como cidadão, “nunca vergou a espinha na vida dele”, destacou também.
“É o nosso mestre”, reforçou, recordando que ele próprio e Sérgio Godinho tinham a “marca afonsina” já em 1967, quando se conheceram em Paris, França.
Para Guilhermino Monteiro, “ainda há um trabalho teórico a fazer em torno da obra” deste cantautor, que influenciou vários músicos da sua geração, mas também os mais jovens.
José Mário Branco contou que volta regularmente à música de Zeca Afonso: “Todas as vezes encontro dados novos”.
“A surpresa foi uma constante” durante a realização deste livro”, corroborou, por sua vez, Guilhermino Monteiro.
Com este livro, os autores esperam contribuir para um melhor conhecimento e estudo deste precioso património” que é a obra musical de José Afonso, alguém que, segundo José Mário Branco, “tinha coisas para dizer à gente”.Lusa
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